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Entrevista a João Dias

João Dias

Mestre em Engenharia Biomédica pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, com especialização em Instrumentação Biomédica e Robótica Médica. Durante o seu percurso, realizou o projeto de mestrado em Erasmus no Surgical Robotics Laboratory da Universidade de Twente, na Holanda.

A ANEEB teve o prazer de entrevistar João Dias! O João falou-nos do seu trabalho como Medical Device Engineer na Humeca BV, nos Países Baixos, onde se dedica ao desenvolvimento de dispositivos médicos e à certificação na área

[Entrevistadora] – Mafalda Rodrigues (ANEEB)
[Entrevistadora] – Mariana Meneses (ANEEB)
 
Vê aqui a Entrevista completa!

[Mariana Meneses]: Olá e sejam bem-vindos a mais um episódio de Biomédicos pelo Mundo. Eu sou a Mariana Meneses, diretora do departamento de Ensino e Ação Social da ANEEB, e estou aqui com a minha colega de departamento Mafalda Rodrigues.

[Mafalda Rodrigues]: Hoje temos o prazer de conversar com o João Dias, mestre em Engenharia Biomédica pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, com especialização em Instrumentação Biomédica e Robótica Médica. Durante o seu percurso, realizou o projeto de mestrado em Erasmus no Surgical Robotics Laboratory da Universidade de Twente, na Holanda, experiência da qual resultou a publicação de um artigo científico. Atualmente, trabalha como Medical Device Engineer na Humeca BV, nos Países Baixos, onde se dedica ao desenvolvimento de dispositivos médicos e à certificação na área. Bem-vindo, João, e muito obrigada por teres aceite o nosso convite.

[João Dias]: Boa tarde, obrigado eu pelo convite, é sempre um gosto poder partilhar a minha história com aspirantes a engenheiros biomédicos.

[Mariana Meneses]: Obrigada! Então João, para começarmos, gostávamos de saber um pouco mais sobre a tua experiência atual na Humeca BV, nos Países Baixos. Como tem sido a tua experiência profissional e quais os maiores desafios que tens encontrado no setor?

[João Dias]: A experiência tem sido muito produtiva, estou a trabalhar aqui há 3 anos, obviamente no início nunca sabemos muito bem o que fazer dentro de uma empresa e então temos sempre aquela etapa inicial de aprendizagem porque nem tudo é ensinado na universidade. Acho que é mais por aí que são os maiores desafios, é quando entras realmente numa empresa e tens que te habituar ao método de trabalho deles.

[Mafalda Rodrigues]: Então, no teu percurso académico tiveste a oportunidade de realizar o projeto de mestrado em Erasmus, no Surgical Robotics Laboratory da Universidade de Twente. Que aprendizagens destacas dessa experiência e de que forma ela contribuiu para a tua carreira?

[João Dias]: A mim surgiu-me a oportunidade de fazer a tese fora, dentro do programa de Erasmus e então na altura procurei diversas universidades no estrangeiro onde pudesse fazer. Lembro-me de ter ofertas na Bélgica e na Holanda e acabei por aceitar o projeto na Universidade de Twente aqui nos Países Baixos. Um dos motivos que também me fez aceitar este projeto era que era algo novo, não se vê muito em Portugal, não sei se foi mencionado mas eu fiz a tese em microrobótica no laboratório e achei um tema muito science fiction, então ajudou na escolha do processo. Isso foi muito importante para arranjar o trabalho que eu estou a fazer agora porque também te dá experiência de uma outra cultura de trabalho que não tens em Portugal, e isso depois acabou por afetar também eles me aceitarem quando voltei para a Holanda.

[Mariana Meneses]: Obrigada! Para além da formação técnica, investiste em várias certificações, como negociações estratégicas, gestão de produto e projeto e biologia computacional. O que te motivou a procurar estas formações complementares e de que modo impactaram o teu percurso profissional?

[João Dias]: Como disse no início, nós nunca estamos preparados para o mundo empresarial até chegarmos cá e acabamos por ter que aprender várias coisas antes de começarmos a exercer a própria profissão, e mesmo depois disso já estando dentro desta indústria acabamos sempre por perceber que ou ficamos como estamos com o conhecimento que temos, ou procuramos sempre por evoluir para nos tornarmos mais competitivos e é nesse sentido que estes cursos, estas aprendizagens, nos valorizam ainda mais. Tornam-te um employer mais competitivo e é sempre mais valorizado mesmo até por outras empresas.

[Mafalda Rodrigues]: Obrigada! O teu papel ativo no associativismo, como Presidente do Núcleo de Estudantes do Departamento de Física e coordenador na Associação Académica de Coimbra, permitiu-te desenvolver papéis de liderança e organização de eventos. Quando entraste no mercado de trabalho sentiste que estas extracurriculares fizeram a diferença na tua procura por emprego?

[João Dias]: Boa pergunta, se calhar a minha resposta é um bocado contrária àquilo que as outras pessoas possam dizer, mas eu acho que não. Pelo menos em termos de hard skills nada do que tu aprendes no associativismo ou noutros tipos de organização de eventos te ajuda propriamente a ser um engenheiro biomédico. Em contrapartida, é algo muito útil para as soft skills, para a tua habilidade em conectar-te com os teus colegas de trabalho e podes ou não ter que enfrentar situações em que essas soft skills vão ser usadas. Se eu pudesse voltar atrás não fazia tudo de novo, são outros tipos de conhecimento que valorizo muito e que me ajudam a ser eu e que me ajudam a ser um melhor profissional eu acho, mas não a nível de conhecimento biomédico por assim dizer. Acho que se não tivesse participado nessas associações não ia fazer assim tanto impacto para aquilo que estou a fazer agora, mas acredito que noutro tipo de profissão, nomeadamente mais a nível de um gestor, que seria mais valorizado.

[Mariana Meneses]: Estiveste também envolvido em atividades de voluntariado e escotismo durante muitos anos. Que aprendizagens levas dessa vertente mais pessoal e como é que essas competências “não técnicas” se refletem no teu trabalho hoje?

[João Dias]: Vai ao encontro daquilo que já referi na pergunta anterior, é tudo experiências que desenvolvem a tua capacidade de resolução de qualquer problema que aconteça, mesmo na universidade, nas associações e, achando ou não que não possa acontecer, há sempre imprevistos na vida profissional, até nas empresas e esse tipo de coisas ajuda sempre nessa resolução de problemas. Até porque imagina que não o terias, que não tinhas feito nada disso e aparece um problema à frente e acabas por estar mais stressado, ou não, com a situação, se não tivesse passado por essas experiências provavelmente iria ter que enfrentar problemas com muito mais dificuldade do que se não o tivesse feito. E quando converso com os meus empregadores acho que isso é valorizado por parte deles, pelo menos eles dizem sempre “Ah tu foste capaz de sair daquela situação, muito bem, não estava à espera”, coisas assim, o que é sempre bom de ouvir e não é algo que se aprende na universidade, só mesmo saindo fora dessa vida académica é que podem experienciar isso.

[Mafalda Rodrigues]: Tens experiência em várias linguagens de programação e softwares, desde Python e MATLAB até C++ e RobotStudio. Que importância atribuis a estas competências digitais na engenharia biomédica atual?

[João Dias]: Acho que saber programar em qualquer tipo de língua é super importante principalmente nos dias de hoje, é quase tudo digital. Acho que valoriza muito uma pessoa no mercado de trabalho, eu, por exemplo, não poderia fazer parte de projetos dentro da empresa se não soubesse, por exemplo, programar em Java ou em Python. Há certas línguas que são mais importantes, obviamente que depende da posição que tu tens dentro da empresa. Por exemplo, um software engineer na área precisa mais, eu diria, de C++ ou Python, enquanto que se trabalhares mais na área de RnD (Research and Development) secalhar MatLab seria mais importante, depende da empresa e do que ela faz em específico. Mas acho mesmo importante que se desenvolva pelo menos mais um bocado daquilo que já aprendemos na universidade para poderem ter uma vida mais facilitada na empresa.

[Mariana Meneses]: Trabalhar fora de Portugal implica sempre adaptação. Como tem sido viver e trabalhar nos Países Baixos, tanto a nível cultural como profissional?

[João Dias]: Realmente é preciso vontade de ir explorar o estrangeiro porque não tem nada a ver com Portugal, as pessoas são completamente diferentes, o sistema em si é diferente, tem as suas vantagens e desvantagens, não está sempre sol, não está sempre calor, e é preciso saber lidar com isso. Uma das coisas que eu mais gosto é que não estamos assim tão longe, estamos a 2 horas de avião, 2h30. Eu sou do Porto, se tivesse que ir para Lisboa também eram 3 horas de viagem, são coisas que se fazem bem e até há muitas conexões de voos então podes ir a Portugal várias vezes. Outra coisa que este país também tem de bom é que há muitos portugueses cá, se tiverem a sorte de estar numa cidade onde há uma grande comunidade de portugueses, é aquele pedacinho de casa que está longe mas está perto e pronto, vai-se passando assim. A nível profissional na Holanda é algo que também é completamente diferente de Portugal, pelo menos das histórias que eu ouço dos amigos e colegas que ainda estão em Portugal, acho que é mesmo uma sociedade, uma cultura que desenvolveu mais cultura de trabalho do que em Portugal, as pessoas aqui são mais focadas, não sei muito bem explicar, só experienciando também. Mas tem as suas vantagens, especialmente para quem vem de fora, em Portugal também há, mas aqui tens a regra dos 30% que também ajuda a nível salarial a motivar as pessoas para virem para cá trabalhar. Especialmente, na nossa área, há muitas empresas, mesmo muitas empresas, que trabalham na engenharia biomédica que não conseguem arranjar profissionais cá e então acabam por importar de outros países.

[Mafalda Rodrigues]:  Para terminar, olhando para o teu percurso, que conselhos darias a estudantes de engenharia biomédica que pretendem exercer profissionalmente no estrangeiro?

[João Dias]: Daquilo que eu sei, daquilo que tenho conversado com colegas que estão espalhados pelo mundo é que é realmente importante uma experiência no estrangeiro, seja Erasmus, seja um estágio profissional numa empresa no estrangeiro, até porque para quem está a contratar é uma das provas que vocês já estiveram no país onde vos estão a contratar, e já sabem mais ou menos, pelo menos não chegas cá e é tipo totalmente à aventura estão a perceber? É uma pessoa que já cá esteve, já sabe mais ou menos como é que isto funciona e eles valorizam super isso. No meu caso, acho mesmo que se não tivesse feito a tese na Universidade de Twente que tinha sido olhado de outra forma, até porque já mo disseram e então pronto.

[Mariana Meneses]: João, foi um gosto enorme conversar contigo e conhecer de perto o teu percurso. Estou certa de que a tua história vai motivar muitos dos que nos estão a ouvir.

[Mafalda Rodrigues]: Obrigado por partilhares connosco a tua experiência. Desejamos-te as maiores felicidades para os próximos desafios.

[João Dias]: Obrigado eu por este tempo, é sempre um gosto falar. Como disse no início, se tiverem outro tipo de dúvidas podem sempre contactar pelo LinkedIn, não sei se vão partilhar isso, mas tenho sempre um gosto em responder. Já ajudei vários estudantes que queriam vir cá fazer Erasmus ou que estavam à procura de trabalho no país, portanto é sempre um gosto ajudar.

[Mariana Meneses]: Obrigada!