Entrevista a Danilo de Jesus

Afonso Pedrosa
Estudante de Mestrado em Engenharia Biomédica na Universidade de Coimbra. Atualmente, está a desenvolver a sua tese de mestrado no Medical Centre, em Rotterdam.
No episódio de hoje, temos a honra de receber o Afonso Pedrosa. O Afonso é um estudante do Mestrado Integrado de Engenharia Biomédica em Coimbra, que já teve oportunidade de ter algumas experiências internacionais, que fazem com que o seu percurso seja um pouco diferente do habitual. Durante a licenciatura, fez parte de um programa de Erasmus+ na Universidade de Padova. Desenvolveu, ainda o seu projeto de licenciatura no Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra. De momento encontra-se a realizar a sua tese também internacionalmente, na Universidade de Roterdão, com foco em Imagiologia Médica, Radiação e Informática Clínica.
[Entrevistadora] – Mafalda Aguiar (ANEEB)
[Entrevistadora] – Carolina Borges (ANEEB)
[Entrevistadora]: Olá a todos e sejam bem-vindos a mais um episódio de “Biomédicos pelo Mundo”. O meu nome é Mafalda Aguiar e sou colaboradora do Departamento de Ensino e Ação Social e estou acompanhada pela Carolina Borges do Departamento de Formação e Saídas Profissionais da ANEEB.
No episódio de hoje, temos a honra de receber o Afonso Pedrosa. O Afonso é um estudante do Mestrado Integrado de Engenharia Biomédica em Coimbra, que já teve oportunidade de ter algumas experiências internacionais, que fazem com que o seu percurso seja um pouco diferente do habitual. Durante a licenciatura, fez parte de um programa de Erasmus+ na Universidade de Padova. Desenvolveu, ainda o seu projeto de licenciatura no Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra. De momento encontra-se a realizar a sua tese também internacionalmente, na Universidade de Roterdão, com foco em Imagiologia Médica, Radiação e Informática Clínica.
Antes de mais, gostaria de agradecer por teres aceite este convite para estar aqui conosco. Diante deste percurso em Engenharia Biomédica, gostaria de começar por perguntar de que modo é que fizeste a escolha deste curso. Houve algo que há partida de entusiasmou, ou foi um pouco um tiro no escuro?
[Entrevistado]: Bem, no início foi um bocadinho um tiro no escuro e não foi ao mesmo tempo. Eu sabia que gostava muito da área das ciências, e dentro dessa área sempre tive mais sucesso com a física, biologia e química. Procurei assim um curso que misturasse todas estas componentes da ciência. Foi também procurar também, e acabei por escolher engenharia biomédica por misturar as diferentes áreas deste curso.
[Entrevistadora]: No final da tua licenciatura acabaste por desenvolver um projeto em Medicina Nuclear, esta é uma área que sempre te interessou?
[Entrevistado]: Sim. A Medicina Nuclear foi sempre uma área presente na minha vida, digamos assim. Não tinha muito bem noção do que é que era quando entrei no curso. Isto foi também um gosto que se foi despertando ao longo do curso. Durante a licenciatura, tive a oportunidade de abordar a parte da Física Nuclear numa outra cadeira.
Foi uma cadeira que me interessou muito e, portanto, baseei a escolha do meu projeto de licenciatura com base nessa experiência dessa cadeira que eu tive, que acabei por gostar bastante.
[Entrevistadora]: Sentes que o curso te preparou com ferramentas suficientes para o desenvolvimento deste projeto ou foi algo que foste aprendendo ao longo da sua realização?
[Entrevistado]: Pois. Eu, de facto, não estava totalmente preparado porque eu acho que, especialmente em Engenharia Biomédica, na licenciatura, nós não damos muito foco a mais uma área da Ciência do que a outra. Neste caso, da Medicina Nuclear. Eu acho que nós abordamos tudo o que é Ciência, desde Medicina, Anatomia, Programação, Matemática, Física, Biologia, mas acabamos por não nos focarmos muito numa só cadeira.
Portanto, quando entrei sabia um bocadinho da teoria do que é que é Medicina Nuclear, Física Nuclear, mas depois o meu projeto também foi muito prático, foi irradiar células em laboratório e toda essa componente mais prática acho que é uma desvantagem da licenciatura do nosso curso que não há, assim, tantas cadeiras práticas nesse sentido. É muito mais baseado na teoria e, portanto, tudo aquilo que eu aprendi no projeto, aprendi só no projeto e não tive, assim, um grande background durante a licenciatura.
[Entrevistadora]: Agora mais recentemente foste para os Países Baixos, no âmbito da tua tese de mestrado. Sentiste uma grande diferença, quer no estilo de vida, quer na forma de trabalho deles?
[Entrevistado]: Sim, de facto, tive a oportunidade de estar agora nos últimos cinco meses, a acabar a minha tese de mestrado no Erasmus, em Roterdão. Sim, os holandeses são um bocadinho diferentes de nós portugueses. No que diz respeito à parte social, são um povo um bocado mais fechado e senti um bocado falta de, dessa parte social, de conviver, porque eles são muito focados no trabalho, são pessoas muito organizadas e foi um bocadinho difícil a adaptação no início até começar a conhecer, obviamente, mais pessoas, também de outras nacionalidades. E em relação ao trabalho, é isso que eu disse, são muito focados, são muito práticos, trabalham certinho durante o dia todo e a dificuldade também esteve nisso, foi ambientar-me a esse ritmo, a esse pace que eles têm, que nós aqui, se calhar, talvez pela nossa própria cultura, de sermos assim um bocado mais preguiçosos, deixarmos assim um bocadinho tudo mais para a última, foi um bocado difícil no início de acompanhar o ritmo deles.
[Entrevistadora]: Mas, sentiste-te acompanhado neste processo? Sentiste que havia pessoas que estavam lá para te auxiliar a integrares-te? Ou sentiste que acabaste por cair um bocadinho lá de paraquedas e depois tiveste de descobrir como te adaptar?
[Entrevistado]: Não, felizmente, a escolha do projeto de mestrado, eu a priori sabia logo que ia fazer um estágio em Roterdão e foi por causa disso que eu escolhi de facto este projeto. Também por ser no contexto de imagem médica, inteligência artificial também é uma área que me apaixona bastante, mas porque sabia que ia ter esta experiência em Roterdão, que acho que é sempre bastante importante adquirirmos este tipo de experiências. E felizmente tive a oportunidade no hospital no Erasmus em Roterdão os meus supervisores, um deles ser português, o Danilo, também engenheiro biomédico, também tirou o curso no Departamento de Física da Universidade de Coimbra, logo aí senti uma proximidade e um carinho, digamos assim, diferente.
E a minha outra orientadora, a Luísa, espanhola, também latina, digamos assim, o que também ajudou bastante na parte social. Obviamente eles ajudaram bastante na parte prática do projeto, ainda hoje me ajudam, mas na parte social ter assim, poder falar, por exemplo, com o Danilo assim em português faz toda a diferença, por exemplo. E foi bom ter a orientação deles e acho que parece que foi tudo alinhado para que corresse bem como correu.
[Entrevistadora]: Qual foi a melhor parte deste período em Roterdão? E o que é que achaste mais difícil?
[Entrevistado]: Foi provavelmente ter estabelecido uma rede de contactos gigantesca. Conheci pessoas bastante inteligentes, digamos assim, com outro tipo de conhecimentos, pessoas muito práticas, muito fortes nas suas áreas e conseguir trabalhar numa equipa multidisciplinar, digamos assim, acho que me enriqueceu bastante a nível profissional.
Consegui adquirir novas skills que antes de ir para Roterdão não as tinha e a nível social, o facto de viver num país estrangeiro sozinho obviamente nos faz crescer um bocadinho mais enquanto seres humanos, porque não temos aqui os nossos papás nem as nossas mamães para nos ajudar. E também a nível do inglês, claro, é sempre bom ter uma experiência internacional eu acho mesmo para melhorar o inglês, que também antes de ir para Roterdão não era o mais perfeito de todos. Eles lá falam muito bem inglês e portanto também me obrigou aqui um bocadinho a conseguir atingir esse patamar, não só a nível profissional, mas também a nível social.
[Entrevistadora]: E quanto ao sistema de ensino e de pesquisa, quais dirias que são as principais diferenças que encontraste entre Portugal e os Países Baixos?
[Entrevistado]: Portugal não posso falar obviamente de todas as faculdades, eu falo da realidade que eu conheço que é a Universidade de Coimbra. Eu acho que comparativamente aos Países Baixos, eu não tive oportunidade de estar numa universidade mas estive num hospital, sei o modo de trabalho deles, e eu acho que eles dão muito mais valor à parte prática e aos resultados atingidos, do que propriamente à parte teórica. Eu acho que aqui pelo menos na Universidade de Coimbra, ainda é muito valorizada a parte teórica, enquanto eles lá são muitos práticos e isso facilmente se vê por exemplo na minha tese de mestrado. É uma tese que tem muita ênfase teórico, também devido à UC porque todas as teses anteriores também têm essa ênfase, mas depois comparativamente às teses de colegas de mestrado que tive lá, de naturalidade dos Países Baixos, são teses muito mais práticas, por exemplo, só para terem uma ideia, a minha parte teórica da tese tem umas 40 páginas, na deles são 5 páginas e já é muito. Portanto eles dão muito foco à parte prática, são muito racionais, são muito frios nas escolhas que fazem, é seguir literalmente um caminho e ficam sempre restritos a esse próprio caminho, enquanto que nós aqui em Portugal ainda estamos um bocado presos à parte teórica, pelo menos do que eu sinto aqui na Universidade de Coimbra.
[Entrevistadora]: Numa perspetiva assim mais cultural, Roterdão é bastante central na Europa comparado com Portugal, tiveste a oportunidade também de viajar e conhecer novos sítios ou esta altura em que estiveste a trabalhar na tua tese foi muito focada no teu trabalho?
[Entrevistado]: Obviamente que fazer um estágio no âmbito do mestrado não nos dá tanta liberdade como um Erasmus+, um programa Erasmus+, normal, digamos assim. Obviamente tinha um horário a cumprir, mas sem dúvida que tive muito tempo para visitar outras cidades da Holanda, eu acho que são poucas as cidades que eu não visitei na Holanda. Por exemplo, lá está, outra coisa boa da Holanda é que tu trabalhas durante o teu horário, mas a partir do momento em que acabas o trabalho, neste caso, no meu caso, no hospital, acabou, não há mais trabalho para ninguém. É aproveitar, passear e consegui aproveitar muito bem o tempo, sim, conheci muitas cidades na Holanda. Tive a oportunidade também de ir ao estrangeiro porque os Países Baixos é um país no centro da Europa que nos dá muitas opções de visitar novos sítios e, portanto, acho que sim, acho que uma experiência destas deve ser sempre aproveitada e vista das duas formas, como uma boa oportunidade para adquirir novos conhecimentos práticos, mas também uma boa oportunidade para adquirir conhecimentos sociais, para passear, para conhecer novas culturas, sem dúvida.
[Entrevistadora]: Uma vez que o teu percurso no Universidade teve assim esta vertente internacional, tiveste a oportunidade de visitar várias cidades e assimilar um bocadinho a cultura deles, queria-te perguntar se trabalhar no estrangeiro seria algo que tu ambicionas?
[Entrevistado]: Sim, sem dúvida. Não sei se o quero fazer já já depois de acabar o curso, até porque eu não sei se só com a minha experiência já estou habilitado a trabalhar no estrangeiro, se não preciso de primeira experiência cá em Portugal, mas sem dúvida que sim, até porque todos nós sabemos que os estudantes que acabam a Universidade, o mercado de trabalho para eles pode ser um bocado ingrato, e eu vejo lá fora que dão bastante oportunidade a pessoas que acabam o curso,
porque as empresas, aliás as empresas até têm o principal foco lá fora, de contratar pessoas que acabam o curso porque conseguem agarrá-las desde cedo, conseguem moldá-las, digamos assim, à maneira delas, e conseguem tirar vantagem das pessoas que acabam logo o curso nesse sentido. Aqui em Portugal eu sinto que precisamos de passar uma série de obstáculos e de barreiras, até conseguirmos ter alguma estabilidade no trabalho, e obviamente a nível financeiro também acho que não é de todo comparável a situação financeira, neste caso nos Países Baixos, com Portugal e todo o apoio que eles dão a pessoas que acabam o curso e tudo isso. Portanto, sim, sem dúvida quero ir trabalhar para o Estrangeiro um dia.
[Entrevistadora]: Agora que o teu percurso enquanto estudante de Engenharia Biomédica está a acabar, pelo menos esta fase, qual foi o melhor conselho que recebeste ao longo desta tua trajetória académica, e profissional, que gostarias de partilhar com os nossos ouvintes? E especialmente também no que toca a estas experiências no estrangeiro, das tuas vivências, quais é que são os teus maiores conselhos?
[Entrevistado]: Olha, o maior conselho que eu tive foi do Danilo, o meu orientador lá na Holanda, que disse ainda bem que saíste da tua zona de conforto, porque realmente nós às vezes temos medo de arriscar. É muito bom estarmos no nosso conforto, também é bom, mas eu acho que nesta fase da nossa vida, enquanto somos jovens, enquanto temos obviamente também é preciso toda uma estabilidade e uma vida que te proporcione fazer isso, mas arriscar, sair da nossa zona de conforto, porque só aí é que nós vamos conseguir melhorar, é trabalhar com os melhores que nós vamos conseguir ser como eles, porque eu quando fui para a Holanda e quando vi o ritmo de trabalho deles eu fiquei completamente assustado, eu pensava que nem ia conseguir acabar de fazer a tese, mas não, é quando o nível competitivo está lá em cima, é quando tu consegues melhorar. Portanto, é sem dúvida arriscar. Uma oportunidade no estrangeiro é sempre uma boa oportunidade para melhorar, não só a nível prático e profissional, mas também de crescimento social e de crescimento, próprio crescimento, de maturação, digamos assim. Portanto, é sem dúvida sair da zona de conforto o melhor conselho que eu posso dar.
[Entrevistadora]: Portanto, chegamos assim ao fim da nossa entrevista. Gostaríamos de te agradecer pela tua disponibilidade e por partilhares um bocadinho do teu percurso e das tuas experiências conosco e tenho a certeza que inspiraste as pessoas que estão em casa a ver-nos, deixaste aqui uns insights valiosos, um bichinho que nos faz querer visitar a Holanda e, portanto, queríamos agradecer imenso por teres vindo. Obrigada.
[Entrevistado]: Obrigada eu pelo convite.
[Entrevistadora]: Chegamos assim ao fim da nossa entrevista! Resta agradecer-te pela tua disponibilidade para partilhares um bocadinho do teu percurso e das tuas experiências conosco. De certo que inspiraste as pessoas que estão em casa a ver-nos, e deixaste aqui alguns insights valiosos. Obrigada!
