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Entrevista a Matilde Cardoso

Matilde Cardoso

Mestre em Engenharia Biomédica, pela Universidade Nova de Lisboa.

A ANEEB teve o prazer de entrevistar Matilde Cardoso! A Matilde falou-nos sobre a sua experiência com o Erasmus no secundário para França, Espanha e Roménia, e, mais tarde, no seu 1º ano de Mestrado, na Universidade de Oulu, na Finlândia.

Além disso, deu-nos a conhecer como se desenvolveu a realização da sua Tese de Mestrado em Paris, num laboratório associado à Sorbonne Université e no Hospital Universitário de França.

[Entrevistadora] – Maria Machado (ANEEB)
[Entrevistadora] – Patrícia Gomes (ANEEB)
Vê aqui a Entrevista completa!

[Patrícia Gomes]:  Olá e sejam bem-vindos a mais um episódio de Biomédicos pelo Mundo, eu sou a Maria Machado do departamento de Ensino e Ação Social da ANEEB e estou aqui com a minha colega Patrícia Gomes do departamento de Formação e Saídas Profissionais.   Hoje, temos o prazer de ter aqui connosco a Matilde Cardoso, que fez o mestrado integrado em Engenharia Biomédica na Nova. No entanto, as suas experiências internacionais começaram ainda antes disso com a realização de Erasmus no secundário para França, Espanha e Roménia nos anos de 2017, 2018 e 2019 respectivamente. Mais tarde, no seu primeiro ano de mestrado, fez Erasmus na Universidade de Oulu, na Finlândia, mais especificamente na Faculty of Medicine. Além disso, fez a sua tese de mestrado em Paris num laboratório associado à Sorbonne Université e no hospital universitário de França. Nos seus anos como aluna foi sempre muito ativa fazendo parte de várias atividades, pertenceu ao Núcleo de Estudantes de Biomédica na Nova, à comissão de praxe, à comissão e conselho pedagógico, fez 2 estágios, foi parte da comissão organizadora do Tec2Med 2022 etc. Agora, mais recentemente, já iniciou o seu caminho profissional no programa de trainees da CUF. Começo esta entrevista por agradecer teres aceitado o nosso convite para aqui estares.

[Maria Machado]: Vamos começar pelo início. Sabemos que tiveste algumas experiências internacionais durante o secundário, em França, Espanha e Roménia. Conta-nos como foram esses intercâmbios. E achas que esses intercâmbios despertaram o teu interesse por mais experiências internacionais? Que impacto tiveram na tua escolha de seguir Biomédica?

[Matilde Cardoso]: Em primeiro lugar, boa noite! Portanto, as minhas experiências no secundário foram de facto inesquecíveis. Eu acho que surgiram numa fase da minha vida onde eu ainda era muito jovem, eu tinha ali os meus 14, 15 anos, e eu acho que serviram bastante para me abrir os meus horizontes, permitiram, lá  está, aquele bichinho de querer ir lá para fora, saber o que existe além da nossa realidade aqui. Foi algo que me disse muito, e agradeço aos meus pais, por me terem dado essa oportunidade de sair cá de casa, deixar o passarinho voar. Agradeço muito e foi muito rewarding. Quanto à escolha de Biomédica, eu acho que sempre fui uma pessoa muito decidida, e desde muito nova que eu soube que queria algo relacionado com saúde, no entanto, não diretamente medicina, e ao mesmo tempo queria  algo que me permitisse manter a minha mentalidade e raciocínio um bocadinho mais lógico. Portanto, na altura, já não sei que idade é que eu tinha, quando ouvi falar de Engenharia Biomédica diria que foi quase um amor à primeira vista. Soube imediatamente que era isto que eu queria, não fui daquelas pessoas muito indecisas. E pronto, estas experiências claro que me deram a conhecer que há muitas realidades lá fora, e Biomédica pelo estudo que fiz antes, também abria um bocadinho  essa  possibilidade de eventualmente ir lá para fora. 

[Patrícia Gomes]: Obrigada pela partilha. Agora vamos explorar uma experiência mais marcante: o teu Erasmus em Oulu, Finlândia, no primeiro semestre do mestrado. Como foi a tua experiência? Quais foram os momentos mais marcantes para ti?

[Matilde Cardoso]: É uma pergunta difícil de responder, porque é difícil de partilhar uma experiência que é tão nossa e tão especial. Mas foi maravilhoso. Tive a oportunidade de viver uns meses na Finlândia, especialmente no inverno. Pude viajar por vários países nórdicos e vi uma realidade que é praticamente oposta à de Portugal, que era isto que eu pretendia. Queria conhecer outros mundos, porque já conheço o que existe cá e queria saber o que existe lá fora. Conheci pessoas incríveis, cresci muito a nível social e pessoal e também aprendi muito. Oulu é uma cidade mais de estudantes, o que torna tudo mais particular, e voltava a repetir tudo.

[Maria Machado]: Quais foram as maiores diferenças que encontraste entre o ensino superior em Portugal e na Finlândia? E como foi o contacto com estudantes internacionais?

[Matilde Cardoso]: Portanto, relativamente à universidade, as instalações lá são no mínimo impressionantes, a carga horária é muito inferior à nossa. Provavelmente também está relacionado com o número de horas solares, que são muito menos que as nossas. Às 16h o dia está praticamente acabado. Mas sim, na faculdade apesar de não terem essa rotina de passar tantas horas como nós na faculdade, as instalações dispõem de praticamente tudo aquilo que nós precisamos, e quando digo tudo é mesmo tudo, ou seja, eles têm diversas salas de estudo com mesas, tomadas, quadros que nós podemos usar, tem impressoras  que podemos usufruir, inclusive o nosso cartão de estudante tem um saldo que podemos gastar, eles têm computadores que podemos requisitar, e o melhor de tudo, eles têm uma sala muito especial que  servia basicamente para as pessoas descansarem. Ou seja, é muito importante os estudantes trabalharem e aprenderem, mas também é importante ter momentos de repouso, e por isso, acabei por passar uns bons momentos lá, tal como muita gente também aproveitava para ir para lá estudar num ambiente mais descontraído. Nesse aspeto recomendava que cá também tivéssemos algo do género. Quanto ao ensino, este foi todo em inglês, achei que foi bastante acessível comparando com a minha experiência em Portugal. Acabei por ter várias aulas online e algumas cadeiras nem tinham  exame porque eram mais baseadas em projetos. Eu achei consideravelmente mais fácil face ao ensino aqui em Portugal. No caso, aqui se quisesse ter uma boa nota teria de investir várias horas ou vários dias, e lá se estudar a sério por um  dia ou dois conseguia facilmente uma boa nota. Quanto aos finlandeses seguem muito o estereótipo de pessoas tímidas e reservadas, portanto a maior parte do meu tempo foi passada com outros  alunos de erasmus, porque vivíamos quase todos juntos e isso permitiu-me ter um grupo  de amigos muito bom e muito unido.

[Patrícia Gomes]: Ainda bem, parece-me de facto um ensino completamente diferente e sobretudo a sala de descanso que deveríamos adotar. Agora, vamos falar um pouco sobre como foi o final do teu mestrado, com a tua tese em Paris. Como surgiu esta oportunidade, foste tu que procuraste? Ou foi alguma sugestão por parte de professores da universidade?

[Matilde Cardoso]: Basicamente, regressei do Erasmus e soube logo que queria voltar a ter uma experiência lá fora. Neste caso, procurei tudo porque na minha universidade normalmente não há temas lá fora que possamos escolher. Escolhi Paris porque era mais próxima de Portugal e já tinha amigos. Felizmente, tive a sorte de encontrar um laboratório com um projeto muito interessante e fiz o meu trabalho de 6 meses lá, que foi super interessante. Se pudesse, voltava a procurar tudo, apesar da dificuldade em obter respostas.

[Maria Machado]: Como foi viver em Paris e trabalhar num ambiente de investigação tão prestigiado? Quais foram os maiores desafios e o que aprendeste dessa experiência?

[Matilde Cardoso]: Se tivesse de dar um review, eu dava 5 estrelas à minha experiência, não só por ser a cidade de Paris, uma cidade enorme e ativa, mas numa perspetiva laborar tive a oportunidade de conhecer excelentes profissionais das mais diversas áreas. Obviamente que fazendo a minha tese lá surgiram vários percalços. As maiores dificuldades que enfrentei estavam relacionadas com a minha tese, mas também foi muito interessante ter diferentes pessoas comigo que me davam perspectivas diferentes. Aprendi bastante, foram 6 meses muito enriquecedores, aprendi uma nova língua, o que é sempre um plus, e foi engraçado ficar próxima de franceses, que mesmo estando geograficamente próximos de Portugal acabam por ter uma experiência e uma vivência muito diferente da nossa. Além disso, o meu estágio lá era remunerado, trabalhava das 9h às 17h. Eles levam muito a sério sair às 17h. Mas foi bom no sentido em que não permitiu deixar acumular muitas coisas, porque ia para o laboratório todos os dias, não tinha opção de teletrabalho, até porque trabalhava com dados confidenciais. Mas depois tinha o resto da minha tarde livre e os fins de semana também para ir viajar, conhecer outras cidades e mais sobre Paris. Isto permitiu-me ter um equilíbrio entre a vida profissional super razoável, o que foi bastante bom para mim.   

[Patrícia Gomes]: Esse equilíbrio que falas é realmente muito importante para não acontecer burn out. Para além das experiências internacionais, sabemos que estiveste envolvida em várias atividades académicas em Portugal, como a comissão organizadora do Tec2Med e a Comissão de Praxe. E queríamos perguntar se sentes que estas atividades complementam o teu percurso? E, se sim, de que forma?

[Matilde Cardoso]: Claramente que sim, foram muito importantes para desenvolver soft skills. Na parte mais académica da faculdade, só nos ensinam a teoria, mas isso não é suficiente para o trabalho. É preciso ter espírito crítico, saber trabalhar e pensar, mas também é necessário saber gerir pessoas, lidar com elas e perceber que somos todos uma equipa. E estes projetos extracurriculares permitiram-me desenvolver a capacidade de estar em contacto com diferentes pessoas, cujas opiniões são tão variadas, o que, por vezes, se torna complicado. Mas ganhei a habilidade de saber ouvir e gerir essas situações. Pessoalmente, também foi uma experiência muito boa para mim, porque sempre fui muito tímida. Com o passar dos anos e com o envolvimento nestes projetos, desenvolvi-me a nível pessoal, porque fui-me expondo a este mundo do trabalho.

[Maria Machado]: Sem dúvida que são aprendizagens para a vida, que não só levamos para o trabalho, mas falando em trabalho, agora vamos falar do que estás a viver atualmente. Mais recentemente, começaste a tua carreira no programa de trainees da CUF. Podes contar-nos como tem sido essa transição para o mercado de trabalho e se as tuas experiências internacionais te ajudaram nesta nova fase?

[Matilde Cardoso]: Eu comecei a trabalhar à muito pouquinho tempo, à pouco mais de duas semanas, por isso, talvez o meu feedback não seja super produtivo, mas a verdade é que até agora tem sido muito bom. A responsabilidade é um pouquinho mais acrescida, não dependemos só de nós próprios e as consequências acabam por ser mais pesadas. Mas eu tenho gostado, o ambiente é muito bom e tenho tido a sorte de estar rodeada por muito boas pessoas e bons profissionais, que acima de tudo são um grande apoio para nos receber. É também importante fazer um balanço e não nos sentirmos inferiores aos outros e nesse sentido tenho me sentido muito bem. Quanto às minhas experiências é inevitável que elas tenham contribuído para a chegada a este momento e para pessoa que eu sou hoje, sobretudo a capacidade de adaptação à mudança é muito importante naquilo que eu estou fazer, porque acabo por ter muito contacto com médicos, enfermeiros, front office, que têm realidades muito diferentes e é importante saber lidar com o inesperado. Obviamente, estou sempre a aprender, especialmente, com quem tem mais experiência. Acima de tudo o mais importante é estar sempre a aprender, porque quando saímos da faculdade estamos mais confortáveis em estudar e fazer o que estávamos a fazer, mas assim que entramos no mundo do trabalho voltamos ao nível zero. 

[Patrícia Gomes]: Muito importante estares a sentir esse bom ambiente na CUF e que continuas a aprender, porque isso é muito importante para as nossas carreiras. Infelizmente, estamos a chegar ao fim deste episódio, mas, para terminar, que conselhos darias a todos os nossos ouvintes que também querem ter uma experiência no estrangeiro?

[Matilde Cardoso]: Acima de tudo, procurar. Pode ser assustador no início, ao pensar que vamos estar sozinhos e perder a nossa rede de apoio sem qualquer conhecimento, mas é isto que torna a experiência de Erasmus tão especial; é só uma vez na vida. Por isso, é importante procurar e ir sem medos.

[Maria Machado]: Chegamos ao fim da nossa entrevista, mas gostaria de agradecer novamente por estares aqui conosco. Foi um prazer, e tenho certeza que conseguiste inspirar muitos ouvintes a explorar novos caminhos.

[Patrícia Gomes]: Agradeço também pela disponibilidade e acredito que as tuas palavras foram realmente inspiradoras. Muito obrigada!