Entrevista a Diogo Pinheiro

Diogo Pinheiro
Mestrado em Engenharia Biomédica pela Faculdade de Enhgenharia da Universidade do Porto
A ANEEB teve o prazer de entrevistar Diogo Pinheiro! O Diogo falou-nos sobre a sua experiência internacional na Itália e na Alemanha, além do seu extenso percurso académico e profissional ao longo do curso!
[Entrevistadora] – Maria Inês (ANEEB)
[Entrevistadora] – Mariana Meneses (ANEEB)
[Maria Inês]: Olá a todos e sejam bem-vindos a mais um episódio de “Biomédicos pelo Mundo”. Eu sou a Inês Rebhan do Departamento de Ensino e Ação Social da ANEEB e estou aqui com a minha colega de departamento, Mariana Meneses.
[Mariana Meneses]: Hoje temos o prazer de conversar com o Diogo Pinheiro, licenciado em Engenharia Biomédica pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto e com um mestrado em Engenharia Biomédica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Ao longo do seu percurso, Diogo realizou um semestre de Erasmus no Politécnico de Torino, em Itália, e participou em diversos projetos na área da biomédica, incluindo investigações no i3S e no INEGI. Atualmente, está a trabalhar como engenheiro na devie medical GmbH, na Alemanha. Bem-vindo, Diogo, e muito obrigada por teres aceitado o nosso convite.
[Diogo Pinheiro]: Obrigado pelo convite. É sempre um prazer falar com amigos do ISEP.
[Maria Inês]: Vamos começar então. Durante a tua licenciatura, tiveste a oportunidade de realizar um semestre de Erasmus no Politécnico de Torino, em Itália. Como foi essa experiência e como contribuiu para o teu crescimento pessoal e também académico?
[Diogo Pinheiro]: Eu acho que toda a gente que vai de Erasmus acaba sempre por ter uma experiência pessoal mais marcante do que a experiência académica. Nós somos postos num ambiente de aprendizagem com métodos de ensinos diferentes. No meu caso, a língua era diferente, e acaba por ser um bocadinho difícil de aproveitar academicamente o semestre da mesma maneira dos alunos do sítio em que estamos a estudar. A nível pessoal, eu acho que é uma oportunidade perfeita para sairmos da nossa zona de conforto, aprendermos um bocadinho mais sobre nós, pois estamos num ambiente desconhecido. Temos também de criar conexões e aprender os costumes e hábitos das pessoas que estão lá. Somos um pouco forçados a mostrar que conseguimos tomar conta de nós porque não há ali ninguém que esteja próximo a quem nós possamos recorrer. É quase como se fossemos obrigados a assumir responsabilidades ao mesmo tempo que procuramos ser irresponsáveis.
[Mariana Meneses]: Certo. Para além do Erasmus, sabemos que realizaste estágios em investigação, como no i3S e no INEGI. Podes contar-nos mais sobre esses projetos e como é que te ajudaram a definir os teus interesses na engenharia biomédica?
[Diogo Pinheiro]: Os meus estágios foram em contexto de tese, tanto de licenciatura como de mestrado. No ISEP tive a sorte de conseguir um estágio no i3S, no grupo de biocompósitos. Eu estava a trabalhar com biocerâmicos carregados com antibiótico para o tratamento da osteomielite. Na FEUP eu estagiei no INEGI e estava a trabalhar no método de optimização do design de estruturas de implantes. Foram os dois bastante diferentes. No i3S, tive a oportunidade de trabalhar numa área muito mais biológica, e é o estereótipo de bata branca, culturas celulares, lavar sempre as mãos. No INEGI foi um ambiente um bocadinho mais oposto, um bocado mais “sujo”, mais engenharia pura. Lá, tive mais contacto com base nas engenharias puras, mais concretamente com engenharia mecânica. Sinceramente, quando terminei continuava indeciso, porque acabei por gostar dos dois e, no final, só sabia que não queria programação.
[Maria Inês]: Ok e durante o mestrado, também estiveste envolvido no IEEE UP Student Branch. Que impacto teve esta participação no teu desenvolvimento?
[Diogo Pinheiro]: Na altura, quando eu estava na FEUP, tive a oportunidade de me juntar ao IEEE e foi uma oportunidade muito boa para trabalhar com outras pessoas muito mais dotadas academicamente do que eu. Era um ambiente em que, à medida que se ia pensando nas coisas, ia-se fazendo. Era um ambiente de brainstorming. Não havia um plano em concreto, havia apenas uma ideia final e nós tínhamos de descobrir como é que íamos chegar àquela ideia. Na altura, eu estava a trabalhar em implantes maxilo-faciais, mas não cheguei a ver a conclusão, pois terminei os estudos e a minha vida levou-me para sítios diferentes.
[Mariana Meneses]: Sabemos que atualmente estás na devie medical GmbH, na Alemanha, onde trabalhas no desenvolvimento de dispositivos médicos, como plataformas transcateter. Podes partilhar connosco como tem sido esta experiência? Que desafios tens encontrado?
[Diogo Pinheiro]: Eu sou Engenheiro de Pesquisa e Desenvolvimento. Todos os dias eu tenho uma coisa nova para fazer, ou seja, nós estamos a desenvolver uma ideia para um produto que ainda não existe no mercado. Para todos os efeitos, eu estou a trabalhar numa Startup, ou seja, isto é uma combinação explosiva para eu todos os dias não fazer exatamente a mesma coisa. Estou sempre com tarefas novas, ou seja, isto dava-me a oportunidade de eu mexer um bocado na área da eletrónica, mecânica, biologia e nunca me canso de estar todos os dias com tarefas repetitivas. O único problema que eu vejo na Pesquisa e Desenvolvimento são os timings. Há sempre timings e o pessoal tem sempre de mostrar resultados rápidos, senão, os investigadores ficam chateados e despedem-nos. Temos de apresentar mais do que apenas ideias em papel, temos sempre de mostrar protótipos, coisas em concreto, ou seja, coisas que mostram que o projeto está a ir para a frente.
[Maria Inês]: Trabalhar fora de Portugal traz sempre aprendizagens únicas. Como foi a adaptação à vida e ao mercado de trabalho na Alemanha?
[Diogo Pinheiro]: A Alemanha, para todos os efeitos, é um país bastante diferente de Portugal, e é isso que faz com que as pessoas sejam bastante diferentes. Eu acho que os primeiros meses de adaptação, em qualquer país para que vocês vão, é sempre mais complicado. Vocês são novos, acabaram de chegar, e não têm muitas pessoas a quem se possam conectar, mas eu acho que, há medida que vocês vão ganhando o ritmo de vida tanto a nível profissional como pessoal, começam a estabelecer uma comunidade e depois a adaptação torna-se muito mais fácil. Eu acho que o segredo para quem quer ir para fora é arranjar uma comunidade em quem vocês se possam agarrar um bocadinho.
[Mariana Meneses]: Olhando para o teu percurso, achas que as tuas experiências internacionais, tanto em Itália como na Alemanha, te ajudaram a desenvolver competências que agora aplicas no dia a dia?
[Diogo Pinheiro]: Sem dúvida, mais pelo facto de estar a trabalhar em ambiente internacional. Ou seja, vocês vão lidar com todo o tipo de pessoas, com diferentes backgrounds e diferentes culturas, e é sempre importante ter um bocadinho de flexibilidade e ver as coisas de outras perspectivas, ou seja, como lidar com as pessoas no local de trabalho. Também pelo facto de que, quando vocês estão num ambiente internacional, acabam por ter um olhar diferente para o mercado de trabalho. Vocês veem mais oportunidades de trabalho e não ficam tão focados no que existe apenas em Portugal. Por exemplo, estudar na Itália e trabalhar na Alemanha abriu-me um bocadinho os olhos às possibilidades do que é que eu podia fazer com a minha carreira.
[Maria Inês]: Ao longo do teu percurso académico, destacas-te pela versatilidade entre investigação, desenvolvimento de dispositivos e trabalho com biomateriais. Que conselhos darias aos estudantes que querem explorar diferentes áreas da tão diferente engenharia biomédica?
[Diogo Pinheiro]: Eu aconselho a experimentarem tudo. Ou seja, quanto mais experimentarem, melhor, porque vocês só conseguem definir um caminho para seguir se souberem para onde não querem ir. No meu caso, foi exatamente isso. Experimentei o máximo que pude dentro das possibilidades daquilo que existiam e fui traçando aquilo que eu não queria e acabou por se tornar mais fácil. Vou ser sincero, eu estou agora no mercado de trabalho e há muita coisa que eu sei que gosto, muita coisa que eu não sei se gosto ou não e muita coisa que eu ainda quero tentar. Acho que o bonito da Engenharia Biomédica é isso, vocês têm tantas possibilidades por onde podem ir, tantas áreas diferentes para trabalhar, e vocês recebem esse conhecimento enquanto estão a estudar para poderem efetivamente fazer essa transição entre áreas.
[Mariana Meneses]: É verdade.
[Diogo Pinheiro]: Só uma coisa que gostava de dizer. Não tenham medo de abraçar projetos grandes. Eu acho que isso é uma coisa que muitas vezes impede os estudantes, pois eles pensam que não têm a capacidade efetivamente de conseguir e ir para esse projeto ou desenvolver esse projeto. Isso é um bloqueio mental e as pessoas devem esquecer isso. Quando estão no projeto e quando estão nas dificuldades, é que vocês evidentemente se mostram e começam a desenvolver capacidades ao tentar superá-las. Não ter medo de ir para as coisas é muito importante.
[Mariana Meneses]: É verdade. Estamos quase a terminar esta entrevista, mas gostávamos de saber: o que dirias a quem está a pensar em seguir um caminho internacional, seja em Erasmus, estágios ou mesmo no mercado de trabalho?
[Diogo Pinheiro]: Tenham uma mente aberta para experiências novas e liguem à vossa família com frequência. A vossa mãe vai ficar com saudades.
[Maria Inês]: Muito obrigada, Diogo, pela tua partilha. Foi um prazer ouvir sobre o teu percurso e tenho a certeza de que muitos dos nossos ouvintes ficaram inspirados pelas tuas experiências.
[Mariana Meneses]: Agradeço também pela tua disponibilidade. Desejamos-te o maior sucesso para o futuro!
[Diogo Pinheiro]: Obrigado por este tempinho. Boa sorte para todos os estudantes que estejam a ouvir isto.