Entrevista a Tânia Santos
Tânia Santos
Mestre em Engenharia Biomédica e atualmente na fase final do doutoramento em Engenharia Física pela Universidade de Coimbra (UC)
A ANEEB teve o prazer de entrevistar Tânia Santos, mestre em Engenharia Biomédica e atualmente na fase final do doutoramento em Engenharia Física pela Universidade de Coimbra (UC). A Tânia contou-nos a sua experiência na Áustria, e como esta contribui para o seu percurso profissional e pessoal.
[Entrevistadoras] – Ana Pinto e Natália Alves (ANEEB)
[Entrevistada] – Tânia Santos
[Entrevistadora] – Olá Tânia! Para começar, pedimos-te que nos contes quando é que realizaste a tua experiência internacional, porque é que tomaste a decisão de ter uma experiência profissional fora de Portugal e porquê na Áustria.
[Entrevistada] – Eu acabei o curso de Engenharia Biomédica na Universidade de Coimbra em junho de 2015 e iniciei o meu estágio no laboratório de dosimetria da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) apenas uma semana depois de defender a tese em Coimbra. Praticamente todos os anos, a AIEA, com sede em Viena na Áustria, abre vagas para receber estagiários internacionais, e sendo esta uma instituição de referência na área da Radioterapia, que foi a área em que me foquei no mestrado, decidi candidatar-me e acabei por ser selecionada. O meu estágio profissional teve a duração de um ano.
[Entrevistadora] – Quais eram as tuas responsabilidades/funções durante o estágio?
[Entrevistada] – O meu trabalho no laboratório era muito prático. O laboratório na altura estava a fazer o comissionamento/aceitação de um novo sistema dosimétrico composto por dosímetros de vidro. Por isso trabalhámos na caracterização desse sistema para que pudesse passar a ser usado em auditorias de dose a nível mundial. O que acontece na prática é que um hospital que faz tratamentos de radioterapia em qualquer local no mundo pode requisitar um dosímetro à AIEA para verificar a calibração do acelerador usado no tratamento dos doentes. O dosímetro é então enviado para o hospital, onde vai ser irradiado de acordo com o protocolo disponibilizado pela AIEA. Depois da irradiação, o dosímetro é devolvido à AIEA que procede à sua leitura e elabora o respetivo relatório com os resultados.
[Entrevistadora] – O trabalho que desenvolveste era feito somente por ti ou estavas inserida num grupo de trabalho?
[Entrevistada] – Trabalhei num grupo constituído por mais ou menos 6 pessoas de nacionalidades diferentes, sendo que a formação base delas era maioritariamente Física ou Engenharia Física.
[Entrevistadora] – Estando então inserida num grupo de trabalho que não tinha a mesma formação, achas que o curso que tiraste e a especialização que tiraste te preparou para teres este desafio profissional?
[Entrevistada] – O meu percurso académico forneceu-me as bases necessárias para realizar as tarefas que me propuseram. Não senti nenhuma barreira ou que estivesse em “desvantagem” em relação aos meus colegas. É claro que no início era tudo novo e precisei de supervisão, mas ao longo do tempo fui ganhando confiança e autonomia.
[Entrevistadora] – Consideras que a língua foi uma barreira durante a tua experiência?
[Entrevistada] – O trabalho que desenvolvi foi maioritariamente com pessoas de diferentes nacionalidades, sendo que o inglês era o idioma que usávamos para comunicar. Sinto que esta experiência fez com que melhorasse o meu nível de inglês uma vez que era o idioma que utilizava diariamente. Não senti que a língua fosse uma barreira, até porque nenhum de nós tinha o inglês como língua materna e todos fazíamos um esforço para compreender e ajudar a evoluir.
[Entrevistadora] – Como é que esta experiência te enriqueceu tanto a nível profissional como pessoal?
[Entrevistada] – Foi uma experiência totalmente fora da minha zona de conforto. Ir completamente sozinha para outro país nunca esteve nos meus planos e nunca imaginei que iria ganhar tanto com isso, tanto a nível pessoal como profissional. No fundo sempre duvidei muito que fosse capaz, e o facto de correr esse risco obrigou-me a crescer imenso e combater muitos medos e inseguranças, percebendo que sou capaz de trabalhar e ser boa profissional tanto em Portugal como em qualquer parte do mundo.
Trabalhei com pessoas com ritmos e formas de trabalhar muito diferentes da minha, às quais me tive que acostumar, o que também me tornou uma pessoa mais aberta a novas culturas e tolerante. Também a ética e cultura à volta do ambiente de trabalho é muito diferente da de Portugal, por exemplo, na Áustria por volta das 16/16.30h tínhamos um autocarro da própria instituição que nos levava para casa para aproveitar o resto do dia, e sendo eu uma pessoa que dedica muito tempo seguido para a obtenção de resultados, consegui treinar a minha paciência e a dar prioridade à minha vida fora do trabalho. O fato de ter um horário tão apertado fez também com que aprendesse a gerir melhor o meu tempo e a desprender-me dos “horários-académicos”, que apesar de poderem ser apertados, são mais flexíveis. Em termos profissionais, foi a minha primeira experiência profissional que implicou a aplicação de conhecimentos fora do contexto académico, levando a que estivesse com medo, mas que com o passar do tempo me trouxe muita confiança por conseguir trabalhar sozinha e conseguir aplicar os meus conhecimentos.
[Entrevistadora] – Qual foi o maior obstáculo que tiveste que enfrentar?
[Entrevistada] – A espera de começar esta nova fase porque não sabia o que ia encontrar, como ia ser, o facto de ir sozinha… os receios normais de quem vai começar um novo capítulo. Quando estava na Áustria, não houve um obstáculo que me tenha marcado, talvez falar inglês, mas as pessoas faziam um esforço para me compreenderem.
[Entrevistadora] – Que diferenças sentiste a nível cultural e quais as diferenças no trabalho em Portugal e na Áustria?
[Entrevistada] – A nível gastronómico, eles comem muita carne, sendo que um dos pratos típicos é o panado, o que achei muito estranho uma vez que em Portugal é um prato normal, e também terem na cantina uma vez por semana, um doce como prato principal.
A nível de cultura de trabalho senti que eles dão muito valor à vida fora do trabalho, contrariamente ao que vivemos em Portugal.
[Entrevistadora] – Recomendas aos estudantes uma experiência no estrangeiro? Que conselho darias a alguém que queira ter uma experiência como a tua?
[Entrevistada] – Acho que toda a gente devia sair do país para experienciar o que é viver lá fora, de preferência sozinho porque o que se vive ao longo dessa experiência é um desafio pessoal que não sabemos que conseguimos superar até o vivermos. É uma experiência muito positiva e que nos enriquece tanto a nível pessoal como profissional, abre-nos muito os horizontes e obriga-nos a conhecer muita gente nova.
Por natureza era uma pessoa muito cautelosa, que organizava a minha vida com muita antecedência, e hoje se me disserem para viajar para fora do país na véspera, eu tenho o à vontade de me organizar para ir.
O meu maior conselho é que se tiverem a oportunidade de ir não hesitem e sejam vocês mesmos porque isso é que vai fazer a diferença.
[Entrevistadora] – Muito obrigada por teres dispensado parte do teu tempo nesta entrevista e obrigada pelas tuas palavras.
[Entrevistada] – Obrigada eu pelo convite!
A ANEEB agradece por teres aceite esta entrevista e pela partilha da tua experiência fora de Portugal, esperando com isto ajudar outros estudantes que estejam prestes a tomar esta decisão. Votos de sucesso