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Entrevista a João Carvalho

João Carvalho

Mestre em Engenharia Biomédica, formado pelo Instituto Superior Técnico (IST)

A ANEEB teve o prazer de entrevistar João Carvalho, Mestre em Engenharia Biomédica, formado pelo Instituto Superior Técnico (IST) em 2019. O João falou-nos acerca da sua experiência na Suíça em Zurique, enquanto está a tirar Doutoramento no Instituto de Machine Learning no Departamento de Ciências da Computação da ETH Zurich. 

[Entrevistadora] – Ana Pinto (ANEEB)

[Entrevistado] – João Carvalho

 
Vê aqui a Entrevista completa!

[Entrevistadora] – Para te ficarmos a conhecer um bocadinho melhor, pedia-te que falasses sobre o teu percurso académico e o peso que está a ter na tua experiência de Doutoramento no estrangeiro.

[Entrevistado] – O meu nome é João Carvalho e estudei no Instituto Superior Técnico em Lisboa no Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica, frequentando depois uma Machine Learning Summer School que abordou o tema “Natural Language Processing”.

Após ter terminado o Mestrado fui à procura de oportunidades de Doutoramento no estrangeiro especificamente dentro da Europa. A minha ideia inicial era fazer o Doutoramento na Inglaterra, uma vez que é o país com as melhores universidades, no entanto o meu orientador de Mestrado aconselhou-me a vir para a Suiça pela qualidade de vida que este país oferece e também pelas conceituadas universidades, como por exemplo a ETH que é a universidade onde estou a realizar o meu Doutoramento. A minha candidatura foi para a ETH e para a EPFL, na altura contactei três grupos que achei interessantes e decidi enviar a minha candidatura espontânea. 

[Entrevistadora] – Ou seja, o teu Doutoramento não tem qualquer ligação com o IST?

[Entrevistado] – Não, candidatei-me diretamente para o programa doutoral da ETH. Na minha faculdade para além dos projetos financiados por bolsas, existe ainda financiamento para candidaturas espontâneas. Alguns projetos são propostos e aceites mesmo não tendo ainda todas as pessoas necessárias para trabalharem nele, o que leva à possibilidade de serem abertas candidaturas espontâneas.

[Entrevistadora] – Em que área é que te estás a especializar? É uma continuação do teu tema de Mestrado?

[Entrevistado] – Acaba por ser uma continuação da minha carreira que é muito ligada à parte de processamento e reconhecimento de padrões em biossinais. Comecei a trabalhar ainda quando estava em Licenciatura e depois no Mestrado com sinais como EDA e EEG que são mais fáceis de adquirir. No meu Mestrado acabei por trabalhar com Imagem Médica, que era até então era uma área em que ainda não existiam muitos projetos com Deep Learning aplicada à deteção e segmentação do cancro do Pulmão em CT, que foi o tema da minha dissertação. Ao longo destes anos, fui-me apercebendo que o que mais me apaixonava não era tanto a aplicação, ou seja, a parte prática, mas sim pelos métodos que tem que estar por de trás. Neste sentido, candidatei-me ao departamento de Ciências da Computação numa vertente mais teórica e metodológica, onde tenho vindo a explorar os melhores métodos de reconhecimento de padrões, em particular métodos Deep Learning não supervisionados, de forma a torná-los mais robustos.

[Entrevistadora] – E da tua experiência na Suiça que vantagens é que vês no local que escolheste para tirar o Doutoramento?

[Entrevistado] – Apesar de saber que a Suiça oferece boas oportunidades na nossa área, o que eu estava à procura era de uma comunidade forte e vibrante com a qual me pudesse conectar. Em conversa com os meus amigos e família, disseram-me que Zurique tinha esta comunidade que eu andava à procura e agora que cá estou posso confirmar isso mesmo. Zurique tem profissionais muito competentes tanto em investigação como na indústria, muitas delas com as sedes centradas aqui.

[Entrevistadora] – Aquando da tua chegada à faculdade, foste integrado em alguma equipa com pessoas de diferentes áreas e nacionalidades?

[Entrevistado] – Quando entrei para o meu grupo de investigação fui fazendo projetos em parcerias com diferentes grupos, o grupo de investigação com quem mais trabalho é constituído por pessoas de nacionalidades russa, suiça, alemã, italiana, sérvia, iraniana, columbiana e a minha que é portuguesa. Quanto às áreas das pessoas da minha equipa, também é interessante de ver que mesmo numa área de investigação ligada a informática, temos pessoas com diferentes formações, desde fisicos e matemáticos, até biólogos.

[Entrevistadora] – Então deduzo que o idioma falado entre vocês seja o inglês. No entanto, tiveste de ter algum nível de alemão para seres aceite na faculdade?

[Entrevistado] – Sim, utilizamos o inglês para comunicar e escrever e não tive de provar o meu nível de inglês para ingressar no Doutoramento. Uma situação engraçada é quando estamos num ambiente fora do trabalho, e que nos juntamos por grupos. Eu e dois meus colegas falamos uns com os outros em espanhol, mas depois tens um grupo que fala italiano, outro russo, alemão… tudo na mesma mesa. Sinto também o mesmo quando estou na cidade, a maior parte das pessoas fala alemão, mas também acabo por ouvir outros idiomas.

[Entrevistadora] – Que conselhos darias a alguém que quisesse ter uma experiência como a tua?

[Entrevistado] – Primeiro de tudo aconselho imenso a virem para a Suiça pela oferta de qualidade de trabalho e de vida. Aqui na ETH eu sinto que tenho essas duas coisas e que tenho tudo ao meu dispôr, desde ginásio, a sala de massagens. Segundo, quando tiverem a considerar oportunidades de estágio, não hesitem em entrar em contactar alguém que conheçam e que achem que possam saber de alguma oferta, porque muitas vezes existem oportunidades abertas de estágios muito boas e que por terem falado com alguém diretamente pode-vos ajudar a passar muitas etapas do recrutamento à frente. 

[Entrevistadora] – Que qualidades e competências consideras serem importantes para alguém que está a pensar ter uma experiência no estrangeiro?

[Entrevistado] – Saber falar inglês acho que é o mais importante para conseguirem adaptar-se a um meio estrangeiro e para comunicarem com as pessoas à vossa volta. Se quiserem ou estiverem com ideias de tirar o Doutoramento no estrangeiro o conselho que vos dou é não terem medo, é um projeto longo e árduo no sentido de ser trabalhoso, mas não é difícil por si só, é só uma questão de dedicação. Às vezes é importante quebrar esse estigma de que é preciso ser o mais inteligente e ter as melhores notas para conseguir ir para um Doutoramento, isso não é verdade, toda a gente consegue realizar o que ambiciona se se focar e trabalhar para tal.

[Entrevistadora] – Concordo plenamente! Resta-me agradecer por partilhares a tua experiência e pelos conselhos que espero que ajude muitos estudantes que ambicionam ter uma experiência como a tua.

[Entrevistado] – Obrigada por me terem convidado!

A ANEEB agradece por teres aceite esta entrevista e pela partilha da tua experiência fora de Portugal, esperando com isto ajudar outros estudantes que estejam prestes a tomar esta decisão. Votos de sucesso.