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Entrevista a Henrique Pinto

Henrique Pinto

Estudante de Doutoramento em Engenharia Biomédica na Amsterdam University Medical Center

A ANEEB teve o prazer de entrevistar Henrique Pinto! O Henrique falou-nos sobre o seu percurso académico ao longo do curso, detalhando a sua experiência em fazer o doutoramento em Amesterdão. 

[Entrevistadora] – Catarina Patrão (ANEEB)
[Entrevistadora] – Andreia Martins (ANEEB)
Lê aqui a Entrevista completa!

[Entrevistadora]: Olá a todos, sejam bem-vindos! Eu sou a Andreia e pertenço ao Departamento de Ensino e Ação Social da ANEEB e estou aqui acompanhada com a Catarina, que pertence ao Departamento de Formação e Saídas Profissionais para conversar com o nosso convidado de hoje, Engenheiro Henrique Pinto, que se tornou Mestre em Bioengenharia pela Universidade do Porto em 2021 e que está agora a fazer o seu Doutoramento. Henrique, muito obrigada por teres aceite o convite, sugiro que comecemos precisamente pelo fim, o que é que nos podes dizer sobre a tua escolha para o Doutoramento? 

 

[Entrevistado]: Olá, em primeiro lugar, obrigada pelo convite, fico muito lisonjeado por estar aqui! É sempre estranho ouvir o meu nome como Engenheiro Henrique, porque estando a fazer um doutoramento na área da Neurociência, já não estou habituado e é sempre bom regressar às origens. Obrigada por isso!

Quanto ao Doutoramento, a ideia surgiu durante o meu percurso. Fiz o meu Mestrado Integrado em Bioengenharia (agora o curso já está dividido em Licenciatura e Mestrado). Na altura a estrutura do Mestrado era de 2 anos de tronco comum e no terceiro podíamos escolher um ramo: Engenharia Biomédica, Biológica ou  Biotecnologia Molecular. Escolhi esta última porque sempre gostei muito do contexto de laboratório, de investigação científica e investigação ligada à saúde. Escolhi também Biotecnologia Molecular porque este curso me dava mais ferramentas para tal mas sei que também existem muitos outros cursos com Engenharia Biomédica em Portugal e mesmo que nos dão as mesmas ferramentas que tínhamos em Bioengenharia. Enveredei pelo caminho da Medicina Regenerativa, Engenharia Genética, pouco de Neurociência na altura mas sempre foi algo que me cativou. Fiz Erasmus no 4º ano e a tese em Portugal no 5º, no Porto, no I3S. Entretanto surgiu a ideia de continuar o percurso de investigação. Existe sempre a dúvida relativamente a ficar na indústria ou continuar na academia. Para mim a resposta foi um bocadinho óbvia porque na minha área, o Doutoramento acaba por ser a opção mais fácil se queres desenvolver a Investigação, pelo menos em Portugal, porque temos uma série de opções.  Depois tive que tomar a decisão quanto a onde fazer a tese, se em Portugal, se no estrangeiro. A minha experiência em Leuven ajudou-me a fazer a escolha porque gostei muito da minha experiência em Erasmus! Entram também os fatores que condicionam a escolha de pessoa quanto a ficar em Portugal ou não: temos que considerar se somos valorizados ou na nossa área, se a investigação que se faz vai de encontro ao que queremos fazer no doutoramento. Existem pessoas que sabem exatamente o que querem fazer no Doutoramento e outras que estão mais abertas às opções. Eu gostava de ser mais a segunda pessoa mas sou muito mais a primeira! Para mim foi mais difícil encontrar o meu lugar porque sabia que queria algo ligado a Brain organoids, à vascularização e portanto o meu nicho era mais pequeno. Por outro lado, também estava aberto a outras sugestões, gostava muito de Medicina Regenerativa e até cheguei a fazer uma entrevista nessa área. Mas por alguma razão, nunca houve um “clic”, nunca achei que fosse aí o meu lugar. 

No decorrer do meu Mestrado estava dentro de um projeto europeu e depois de defender a tese de mestrado pude fazer a UTrecht um mês de investigação para finalizar este projeto e foi aí que descobri a Holanda e percebi que encaixava aqui. Curiosamente surgiu no Linkedin surgiu uma oportunidade na área que queria: ligar um brain organoid a um modelo da barreira mato-encefálico para fazer um organ on a chip e usá-lo como modelo avançado em vitro para estudar doenças neurodegenerativas e fazer drug screening. Estavam a contratar duas pessoas de pHD: uma para ser baseada em Utrech na parte dos brain organoids e outra em Amesterdão na parte da barreira. Por acaso, surgiu esta opção surgiu porque a minha orientadora da Utrecht tinha gostado de uma publicação da minha atual orientadora. Estas coincidências acabam por dar sempre frutos!

Fui à primeira entrevista que correu muito bem e em que me perguntaram que posição queria. Escolhi os Brain Organoids porque era uma área na qual já tenho experiência; também já tinha tido experiência em vascularização portanto estava indeciso. O facto de ser em Utrecht cativava-me um bocadinho mais por achar que Amesterdão era talvez uma cidade muito grande, na qual ia ter mais dificuldade em me encaixar..Long Story Short fui selecionado não para a Utrecht mas para Amesterdão…coisas da vida! Quando vim para uma segunda ronda na Universidade de Amesterdão fiquei fascinado com o Laboratório. É muito recente, no 12º piso portanto conseguimos ver Amesterdão de topo e acima de tudo, achei que o grupo punha-nos bastante à vontade. Uma entrevista aqui passa por, em primeiro lugar, fazermos uma apresentação que normalmente é a nossa tese de mestrado, depois uma visita ao laboratório, e um momento em que a chefe do grupo sai da sala e ficamos com o restante grupo para fazer perguntas e também eles nos fazerem num ambiente mais informal. Essa é a parte em que não devemos ficar nervosos mas em que inevitavelmente ficamos porque sabemos que estamos a ser avaliados de um modo informal, não pelos conhecimentos científicos mas pela nossa personalidade, para perceber se nos encaixamos no grupo. Foi aí que percebi que o grupo era muito porreiro, muito aberto! Resolvi aceitar e estou aqui desde Novembro, teoricamente comecei-o em Janeiro, Portugal, estou a acabar o primeiro ano estou a gostar muito, com os seus ups and downs!

 

[Entrevistadora]: No teu caso, diria, que para além de alguma pesquisa, houve um conjunto de coincidências que culminaram em estares onde estás. Além disso, também mencionaste que na tua área faz sentido ter um Doutoramento. Pergunto então o que aconselharia a alguém que está ainda indeciso quanto a fazer ou não um doutoramento e qual seria o ponto de partida?

 

[Entrevistado]: Para além da sorte eu mencionaria ainda serendipidade! As coisas acontecem por acaso mas com uma certa razão por detrás, não é total acaso. No meu caso, se eu não tivesse LinkedIn a oportunidade não surgiria. Esse é o meu primeiro conselho, criem Linkedin, façam as conexões certas, tentem criar uma network de pessoas que mais tarde, por alguma razão podem ser peças importantes no vosso caminho. A escolha é sempre uma pergunta muito difícil, muito pessoal! Na altura os meus colegas riam-se de mim porque já tinha esta ideia muito marcada e não foi muito difícil. O mais importante é olharmos para nós próprios e perceber o que queremos fazer da vida, definir o que queremos fazer a longo prazo, com o que é que nos sentimos mais confortável, e perceber se o Phd faz sentido ou não nesse caminho. Se sabemos que a indústria é o caminho pelo qual queremos optar, que a investigação não é um caminho para nós, fazer um phd  não deixa de ser válido. Talvez consigamos ter uma posição que não teríamos se não tivéssemos o phd, mas o facto de termos 3 ou 4 anos em investigação,às vezes mais, acaba por ter um peso determinante. Até porque é algum tempo daquilo que eu acho que são os melhores anos da nossa vida e convém que sejam bem aproveitados!  Façam por isso uma introspecção! Falem também com pessoas que estejam a fazer os dois lados! Ou com um aluno de phd que esteja numa área que querem ou com alguém de uma empresa de que gostem! Mandem uma mensagem no Linkedin mesmo se conhecerem apenas alguém que conhece alguém que conhece alguém, as pessoas normalmente são disponíveis, não tenham medo! 

 

[Entrevistadora]: Obrigada! Mencionaste que fizeste ERASMUS + em Leuven. Na mesma linha, pergunto-te o porquê de quereres ter esta experiência e o porquê da escolha deste país e desta faculdade.

 

[Entrevistado]: Sempre quis ter uma experiência internacional: perceber o que se faz cá fora, como é que se vive cá fora! Desde que entrei no curso e sabia que Erasmus era uma possibilidade sempre o quis fazer. Tínhamos duas opções que na verdade era quase só uma: fazer Erasmus estágio ou Erasmus estudos. No meu curso a maior parte das pessoas faz Erasmus estágios porque quando o curso foi criado, aquele que na altura era o 2º semestre do 4º ano e que agora é o 1º do 5º ano, era reservado para um estágio curricular e que podia ser feito lá fora, a partir do Erasmus. Na altura achei interessante ter a experiência lá fora, ver o que se faz lá fora. E o facto de podermos fazer o estágio lá fora é uma opção fantástica; se tiverem no vosso curso essa possibilidade, entre Erasmus estágio ou curso, eu sou pró Erasmus Estágio. Em relação ao porquê da escolha do país, Holanda sempre foi o limite em termos de longitude, porque eu preciso muito do meu Sol! Se calhar é um fator um bocado fútil, mas para mim não dava. Portanto, tinha como opções Holanda, Bélgica e Alemanha. Posto isto, fui vendo os centros de investigação e laboratórios que mais me chamavam. Agora que olho para trás, o que eu faria era ver bons artigos de temas que eu gostaria e a partir daí ver os laboratórios e de que cidades são. No entanto, eu fiz de uma forma diferente, olhei para o mapa e fui vendo o ranking de universidades. Na verdade, isto faz sentido por um lado para a parte do Erasmus estudos, porque para a parte do estágio há muitas universidades que não estão muito em cima no ranking e que têm grupos de investigação fantásticos. Na altura, foi assim que descobri a KU Leuven, porque estava muito em cima no ranking e a partir daí descobri o Instituto de Células Estaminais, onde eu contactei a diretora do curso que me reencaminhou para um pós-doc. Quando eu contactei a diretora do curso já tinha todo um email preparado a dizer em concreto o que eu queria, a minha experiência, o que aprendi das aulas práticas, etc. Isto pode custar um pouco no início, porque realmente parece que “nos temos de vender” e o LinkedIn acho que é uma plataforma de show-off socialmente aceitável.  

 

[Entrevistadora]: A nível do acolhimento quer mesmo da instituição para onde foste quer da cidade, como foi essa inserção no novo ambiente de Erasmus?

 

[Entrevistado]: Em Erasmus foi facílimo! Devido ao facto de termos o Erasmus Student Network (ESN) que faziam imensas atividades e o facto de Leuven ser uma cidade super estudantil, aliás 60% das pessoas que vivem em Leuven estão de alguma forma ligadas à universidade. É uma cidade muito jovem, com muitos bares e tem sempre vida, fomos muito bem acolhidos e fizemos logo um grupo internacional com a ESN. Portanto, outro fator importante que diria é tentarem fazer Erasmus num sítio que tenha ESN porque no meu caso ajudou, não sendo claro um fator limitante.

 

[Entrevistadora]:As tuas expectativas do que seria a experiência foi dentro do que encontraste e se soubesses o que sabes hoje terias feito algo de diferente?

 

[Entrevistado]: Sim e sim. O primeiro sim é um sim mas por outro lado não fazia a menor ideia que iria ser tão bom. Eu fiz em Covid, cheguei a Leuven no início de fevereiro, a meio de março fechou tudo e estávamos na indecisão se haveríamos de ficar ou voltar. Eu fui com 4 amigos do curso, em que uma decidiu regressar, mas nós entretanto decidimos ficar. O facto de estarmos os 4 na mesma residência e de termos um jardim ajudou muito. Além disso, nós no semestre tínhamos um estágio mas também tínhamos uma monografia, normalmente as pessoas fazem a monografia no final do semestre, mas eu aproveitei para fazer neste período de tempo. Não trocava por nada, o sítio é excelente para fazer Erasmus! Agora olho para Leuven com um carinho muito especial, sou grande fã da Cerveja Belga, das batatas fritas, dos waffles, dos chocolates!

 

[Entrevistadora]: Acabaste de descrever uma experiência que acredito ser muito diferente da que estás a ter agora, apesar de ser no estrangeiro são realidades diferentes. Quais são as maiores diferenças que sentes e dentro do país o que é que mais difere de uma realidade para outra? 

 

[Entrevistado]: O que difere mais acho que é o facto de estar em PhD e a realidade do grupo é muito diferente da de um grupo de Erasmus. O meu grupo é praticamente todo do laboratório, ou seja, não tenho a disponibilidade de ir sozinho por exemplo a uma festa. Se estivesse aqui a ter Erasmus seria uma experiência bastante diferente. Em relação às cidades, Amsterdão não é assim tão grande e eu até me vou mudar para Utrecht, porque é mesmo muito perto e as pessoas normalmente preferem ir para as redondezas, por uma questão de custo e qualidade. Não senti uma grande diferença entre a Bélgica, porque, por exemplo, a cultura da bicicleta está nos dois sítios, o facto de não terem muito boa comida está nos dois sítios, infelizmente! O clima é muito parecido, no entanto, o típico Belga e o típico Holandês são ligeiramente diferentes. Os Holandeses são muito conhecidos pela assertividade e são muito diretos e incisivos ao comunicar.  Mas, em geral, é uma experiência muito semelhante e gosto muito dos dois sítios.

 

[Entrevistadora]: Estando-nos a aproximar da meia hora, faço-te a última pergunta: o que é que aconselhas a quem queira fazer uma experiência no estrangeiro? 

 

[Entrevistado]: Sejam criativos no sítio onde escolhem, escolham bem e de forma consciente. Tentem falar com quem já esteve nessa experiência, comunicação é a chave, sem dúvida! Acima de tudo, venham com mente aberta e com uma disponibilidade grande para terem uma experiência internacional e conhecerem pessoas dos vários sítios do mundo, fazer com que isso vos molde e vos abra o horizonte para o que tiver de vir!

 

[Entrevistadora]: Henrique, muito obrigada por esta longa descrição de ambas as experiências! Acho que qualquer pessoa ficou inspirada e vai querer experimentar um pouco da péssima gastronomia dos dois sítios, ir às atividades proporcionadas pelo ESN ou ainda ser julgado por um holandês sem estarmos à espera. Muito obrigada uma vez mais e boa sorte!

 

A ANEEB agradece por teres aceite esta entrevista e pela partilha da tua experiência fora de Portugal, esperando com isto ajudar outros estudantes que estejam prestes a tomar esta decisão. Votos de sucesso!