Entrevista a Beatriz Barros
Beatriz Barros
Eng. Biomédica pela Universidade de Coimbra que atualmente trabalha na NU-RISE.
A ANEEB teve o prazer de entrevistar Beatriz Barros! A Beatriz falou-nos sobre a sua experiência internacional em Heidelberg e na Dinamarca, além do seu extenso percurso académico e profissional ao longo do curso!
[Entrevistadora] – Maria João Martins (ANEEB)
[Entrevistador] – Pedro Teodoro (ANEEB)
[Entrevistador]: Olá a todos, sejam bem-vindos! Eu sou Pedro Teodoro e sou diretor do Departamento de Ensino e Ação Social da ANEEB e estou aqui acompanhado com a Maria João, que pertence ao Departamento Formação e Saídas Profissionais para conversar com a nossa convidada de hoje, Engenheira Beatriz Barros que se tornou Mestre em Engenharia Biomédica pela Universidade de Coimbra em 2021. Beatriz, muito obrigada por teres aceite o convite. No 4º ano fez Erasmus em Heidelberg, Alemanha e no 5ºano integrou o programa “Inovação em Saúde”, EIT health, na Dinamarca. Sugiro que comecemos pela tua experiência de Erasmus no teu 4º ano, porque tomaste essa decisão?
[Entrevistada]: Eu já tinha estado um semestre a fazer um programa de mobilidade no IST, o Almeira Garret, e gostei muito. Por isso, a nova adaptação, conhecer pessoas novas e as realidades diferentes cativou-me muito e por isso tinha imensa motivação para fazer Erasmus. Para além disso, era super habitual fazer, tinha muitos amigos a fazer e o feedback era sempre positivo. A parte difícil foi escolher um sítio para ir, porque as opções eram muitas, pelo menos da Universidade de Coimbra, então estive muito indecisa. Tendo em conta o mestrado que escolhi, Imagem e Radiação, tinha a opção de fazer na Alemanha numa universidade conceituada nesta área, mas tinha o problema de ser o único sitio que tinha só uma vaga. Tinha que decidir entre um sítio em que podia ter uma formação melhor mas tinha que ir sozinha, ou então ir acompanhada mas ir para outro sítio. Acabei por escolher a Alemanha e gostei imenso, foi uma ótima escolha e não me arrependi em nada. Comparando com o programa da EIT, em que fomos 8 alunos da minha Universidade, e comparando com a experiência de ir sozinha saísse muito mais da zona de conforto quando se vai sozinha. Acho que é totalmente diferente. Por isso, motivação não faltava.
[Entrevistadora]: No 4º ano foste até à Dinamarca. Já estava englobado no programa ou foi uma escolha tua?
[Entrevistada]: O programa já estava definido. Estivemos uns meses em Portugal, na Faculdade de Economia e os outros meses era na Dinamarca, na Copenhaga Business School.
[Entrevistador]: Então tomaste a decisão de no 5º ano ir para a Alemanha porque no 4º ano já tinhas tido uma experiência de estudar fora e gostaste?
[Entrevistada]: Sim, foi isso e pelo curso, pelo tema de inovação e saúde. A parte mais de gestão e economia e foi principalmente por aí, até porque nessa altura estávamos em pandemia, inscrevemo-nos sem ter a certeza que íamos mesmo para lá, mas a experiência anterior ajudou imenso.
[Entrevistadora]: Como foram as burocracias, tanto em Portugal como na faculdade de acolhimento?
[Entrevistada]:Normalmente no programa de Erasmus as coisas estão muito desenvolvidas, porque já muitas pessoas fizeram anteriormente e por isso temos o caminho muito facilitado. Quando o acordo é novo com a Universidade, tem que ser trabalho nosso ver as cadeiras que temos e comparar com as do outro local. Eu tive esse problema quando fui para o IST, porque ainda ninguém tinha feito essa modalidade e o curso é diferente em Coimbra, em Lisboa, no Porto, etc. por isso temos que jogar com cadeiras de diferentes anos e conciliar os horários. Obviamente isto tem que ser bem estudado antes de ir, porque se não corresse sempre o risco de chegar e não dar para fazer determinada cadeira. Acho que isso é o que dá mais trabalho em termos burocráticos. Há também sempre papéis que faltam e que à última da hora são precisos, mas os professores também ajudam bastante. No departamento da nossa universidade temos sempre um coordenador destes programas e dão sempre apoio nesse sentido. Algumas universidades também pedem o exame de inglês também é preciso ter isso em conta antes de ir porque temos que fazer com alguma antecedência, mas nem todas, no meu caso não foi necessário, depende muito da universidade.
[Entrevistador]: Em ambos os países como é que te sentiste acolhida? Como é que foi, por exemplo, a nível de alojamento, sentes que houve facilidade com as pessoas dos diferentes países, dentro da comunidade Erasmus?
[Entrevistada]: A nível de experiência mais internacional, a que tive foi mais na Alemanha, porque em Copenhaga éramos 8 portugueses e o ambiente não era tão internacional. Na Alemanha estive num mestrado internacional, só existia uma alemã na minha turma e no caso da Dinamarca não era assim, por isso a experiência não foi tanto dentro da cultura deles e também estive menos tempo.
Na Alemanha o acolhimento também foi um bocadinho diferente do habitual. As minhas aulas só começavam em outubro e eu decidi ir em setembro, um mês antes, e estive esse mês a fazer um curso intensivo de alemão oferecido pela Universidade de Eidelberg, para pessoas que vinham de fora fazer um semestre. Foi aí que conheci pessoas de todo o mundo, logo nesse primeiro mês, foi uma experiência incrível. Depois houve toda uma nova adaptação, porque as minhas aulas eram no hospital de Mannheim, que fazia parte da universidade de Heidelberg, mas era noutra cidade. Então passado esse mês tive que mudar de cidade e começar tudo de novo, por isso tive duas adaptações diferentes. Mas, como o mestrado era internacional, foi sempre uma mudança e um choque porque era um ambiente mais de estudo. As pessoas estavam todas a fazer o mestrado de 2 anos, só eu é que estava de Erasmus, por isso foi um bocadinho diferente a adaptação. A organização das cadeiras também era muito diferente do que estamos habituados, tive 14 cadeiras diferentes e logo no segundo dia de aulas tive logo um exame porque uma delas era só os dois primeiros dias de aulas. Havia cadeiras de 2 dias, outras de 3 meses, 2 semanas,… E o facto de as aulas serem no hospital universitário também foi diferente para estarmos mais dentro do terreno, ver as coisas a acontecer e como podemos fazer a diferença num hospital, principalmente para quem gosta do meio hospitalar, de estar com os doentes e ver como podemos impactar a saúde.
[Entrevistadora]: A tua ideia/expectativa do que seria a experiência foi aquilo que encontraste na realidade? Estabelecendo uma comparação, houve alguma das experiências que tenhas considerado que foi mais de encontro ao que esperavas? Se soubesses o que sabes hoje terias feito algo diferente?
[Entrevistada]: Cada experiência teve os seus pontos fortes. Para sair da minha zona de conforto, foi sem dúvida a Alemanha, pois estive seis meses neste país, enquanto na Dinamarca foram apenas dois. Não obstante, a Dinamarca tem um sistema diferente do nosso país e mesmo da Alemanha, pois apesar de estar inscrita em apenas três cadeiras, eram muito mais intensivas, os alunos eram muito mais participativos, e os exames eram orais. O nosso grupo era o mais novo do mestrado, visto que na Dinamarca é comum começar a trabalhar após o término da licenciatura, de modo a averiguar os gostos pessoais, e só depois se inscreverem em mestrado. Apesar de tudo, a experiência que me encheu mais o coração foi a Alemanha.
[Entrevistador]: Para quem nos está a ouvir e que tenha ideias de ir estudar para fora ou de ERASMUS, que conselhos tens para dar?
[Entrevistada]: Primeiramente, não tenham medo de arriscar e apesar da lista com as oportunidades de ERASMUS que são dadas pelas próprias universidades, se tiverem interesse em uma universidade ou país específico, há sempre a possibilidade de ser o próprio a desenvolver o protocolo. Se tiverem gosto por sítios concretos lutem por isso. Para que sejam obrigados a sair da zona de conforto, aconselho a irem sozinhos, pois a experiência é totalmente diferente do que se formos acompanhados, e acabamos por criar amizades mais fortes com outras pessoas. Esta experiência também nos ajuda a aproveitar as diferenças culturais para perceber e compreender os outros, o que nos dá uma visão diferente do mundo. E claro, aproveitar para conhecer e passear nos países da Europa, e todas as suas tradições, comidas e hábitos, que nem temos a noção que existem, o que nos ajuda também a valorizar o que temos em Portugal.
[Entrevistadora]: Em relação ao mundo do trabalho e ao olhar para o teu percurso desde que entraste na engenharia biomédica, se mudarias algo, ou algo que planeavas de forma diferente?
[Entrevistada]: Sim, diria que mudava alguma coisa, mas também aprendemos muito com os erros, por isso não mudava nada de grande escala. Primeiramente, diria que no início não deveria ter medo de falar com as pessoas que já tiveram experiências ou até pessoas que já estão no mercado de trabalho para pedir conselhos, porque conseguimos aprender muito com os outros, e eu só aprendi quando saí da faculdade. Procurava também novas experiências, pois nunca fiz nenhum estágio de verão, mesmo tendo outras prioridades como voluntariado nesta época.
[Entrevistador]: Em relação ao mundo do trabalho sabemos que estás a trabalhar na NU-Rise, uma medtech na área de radioterapia. Achaste difícil ingressar no mundo do trabalho após conclusão dos estudos?
[Entrevistada]: No meu caso, eu tinha bastantes requisitos e por isso houve uma dificuldade acrescida. Sempre tive uma paixão pelo empreendedorismo, e por esta razão gostaria de começar numa startup, e por isso entrei na NU-Rise. Estou atualmente em processo de mudança de empresa, e estou mais dedicada a projetos próprios. Mas tive oportunidade de trabalhar com duas start-ups, a 3D CardioSolutions, que foi onde fiz a minha tese de mestrado, e ainda desenvolvi alguns projetos de inovação. E após o término do percurso nesta empresa é que mudei para a NU-Rise.
[Entrevistadora]: Podes elucidar-nos um pouco sobre o âmbito do teu trabalho e onde trabalhaste?
[Entrevistada]: Na start-up de radioterapia, eu estive envolvida com a área do produto, ou seja, eu estava responsável por criar os cateteres que seriam acessórios ao dosímetro, o aparelho para medir a radiação em tempo real durante os tratamentos de radioterapia, que é o produto principal da empresa. Assim, a minha função era gerir todos os acessórios novos que podíamos desenvolver para auxiliar no processo de dosimetria. Isto envolveu realizar investigação, identificar competidores, e também compreender o utilizador, que neste caso eram os médicos, os radioncologistas, os enfermeiros, os doentes e perceber as suas necessidades. A partir disto construir estes cateteres que iriam ser os acessórios com o objetivo de responder às necessidades reais dos utilizadores. Para além disso, na parte técnica houve a necessidade de escolher os materiais, como deveria ser desenhado o produto, procurar quem o produza, os ensaios clínicos efetuados, a respetiva análise de dados e por fim a certificação do produto final.
[Entrevistador]: Da nossa parte, muito obrigada Beatriz. É sempre enriquecedor poder falar sobre estas experiências tão diferentes. Desejo-te muito sucesso para o teu percurso académico e profissional. E mais uma vez, obrigada.
A ANEEB agradece por teres aceite esta entrevista e pela partilha da tua experiência fora de Portugal, esperando com isto ajudar outros estudantes que estejam prestes a tomar esta decisão. Votos de sucesso!