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Entrevista a Daniela Cancelinha

Daniela Cancelinha

Estudante do 5º ano do Mestrado em Eng. Biomédica na Universidade de Coimbra - Especialização em Imagem e Radiação

A ANEEB teve o prazer de entrevistar Daniela Cancelinha! A Daniela falou-nos sobre a sua experiência internacional em Erasmus em Milão!

[Entrevistadora]Mariana Cruz (ANEEB)
[Entrevistadora]Catarina Almeida (ANEEB)
 
Vê aqui a Entrevista completa!

[Entrevistadora]: Olá a todos, sejam bem-vindos, eu sou a Mariana e sou colaboradora do Departamento de Ensino e Ação Social da ANEEB e estou acompanhada pela Catarina, que é colaboradora do Departamento de Formação e Saídas Profissionais. Hoje temos conosco a futura Engenheira Daniela Cancelinha, que atualmente se encontra no 5º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica na Universidade de Coimbra, com especialização na área de Imagem e Radiação. Durante o seu percurso académico, teve a oportunidade de fazer Erasmus em Milão, no 1º semestre do 4ºano.

 

[Entrevistadora]: Desde já, muito obrigada por teres aceite o nosso convite, Daniela. E para começarmos a nossa entrevista, começaria por te perguntar a grande questão, o que é que te levou a seguir o curso de engenharia biomédica?

 

[Entrevistada]: Então olá a todos, eu é que agradeço pelo convite. E começando então a vos responder a essa questão, eu acho que é um bocadinho, quando eu ponderei escolher engenharia biomédica, um dos fatores que ficou assim em cima da mesa foi o facto de eu gostar de muitas áreas e não de nenhuma em específico. Eu sempre gostei muito de matemática, física, química, biologia, mas não conseguia escolher uma área concreta que pronto, que eu no futuro me visse a trabalhar. Então também ao pesquisar um bocadinho mais sobre o curso, vi que ele era bastante abrangente e também bastante multidisciplinar, então tornou-se uma opção. Depois, juntou-se ainda o facto de conseguir aliar duas áreas que eu considero bastante interessantes, quer a área da saúde, como a da tecnologia, e acho que a junção de ambas pode vir a ter e tenho a certeza que terá um papel bastante importante no futuro e de bastante interesse também.

 

[Entrevistadora]: Nós sabemos que ainda no teu ensino secundário tiveste a oportunidade de realizar uma experiência internacional na Finlândia. Achas que esta experiência te incentivou e motivou a quereres participar anos mais tarde no programa de Erasmus?

 

[Entrevistada]: Sim, eu acho que de certa forma, sim, até porque a experiência que eu tive na Finlândia foi um bocadinho diferente do que eu realizei depois, já na faculdade, porque foi uma experiência em que era uma mobilidade de apenas de uma semana e era um projeto em que eu ia para a Finlândia, juntamente com mais colegas da minha escola, fomos cerca de 8 ou 10, e cada um de nós foi para casa de um finlandês que apenas conheceu no dia que chegámos ao aeroporto e, em contrapartida, a condição para nós termos essa experiência era depois, mais tarde, recebermos essa pessoa que nos acolheu nas nossas casas cá em Portugal. E essa oportunidade surgiu, eu lembro-me que aceitei logo, porque eu sempre gostei de viajar, de conhecer outras culturas. Confesso que custou um bocado ir para casa de alguém que conheci no próprio dia. Mas também pensei, porque não? também é só uma semana, se eu não gostar, também passa rápido. E depois acabei por gostar bastante, acho que foi muito enriquecedor.

 

E sim, acho que depois quando mais tarde eu tive de tomar a decisão de realizar a mobilidade no meu caso, em Milão, acho que foi bastante mais fácil porque já sabia um bocado para o que é que ia, para um país diferente, tem culturas diferentes, métodos de ensino diferentes. Portanto, acho que acabou por facilitar bastante e teve um papel bastante positivo.

 

[Entrevistadora]: Sim e já que estás a falar na tua experiência em Milão, é agora que eu vou pegar nessa questão. Como é que surgiu esta oportunidade no quarto ano do curso de engenharia biomédica? Como surgiu esta oportunidade de ires para Milão? E não outro para outro país da Europa e para outra zona.

 

[Entrevistada]: Então pronto, todos os anos na Universidade de Coimbra, isto acontece. Eu creio que nas outras universidades, nas faculdades, isso também há de acontecer.  Todos os anos, o colaborador responsável pela realização deste tipo de mobilidade fornece uma lista com vários destinos. E o que acontece é que depois nós podemos escolher 2 ou 3 destinos que nos interessem, tendo em conta também as cadeiras que queremos fazer para depois ter equivalência cá. Ou seja, se calhar se fosse um mestrado assim, muito diferente, poderia não ter as cadeiras que eu queria ter equivalência cá. Ou seja, acho que isso também tem de se ter sempre em conta. E depois, dentro de todas as opções surgiu-me Itália. Em Itália havia imensos sítios e localidades que eu gostava, mas acabei por escolher Milão, porque primeiro acho que tem uma localização geográfica bastante boa, acho que está ali no centro da Europa. É bastante fácil chegarmos lá e também as viagens para Milão são das viagens mais baratas a partir de Portugal. E depois também porque já tinha tido feedback de alunos que realizaram mobilidade lá. E pronto, também já sabiam um bocadinho para o que é que ia. E pronto, o que é que me iria esperar. E depois, para além disso, é um país que faz parte de Itália e também em Itália, haveria sempre imensas coisas para visitar e para…

 

[Entrevistadora]: Olha peço desculpa, vou te interromper, já agora tu falaste de que recebeste feedback de pessoas que estiveram lá a realizar também Erasmus? Como é que tu conseguiste chegar a estas pessoas?

 

[Entrevistada]: Eu conhecia, elas eram do meu curso, entretanto já acabaram, mas eu lembro-me delas terem feito Erasmus e na altura qualquer dúvida que eu tivesse, elas também se disponibilizaram sempre. E acabaram também por ajudar bastante com diversas questões.

 

[Entrevistadora]: E já agora, consideras que o facto de teres tido esta experiência Internacional em Milão foi diferenciador para ti e de facto de enriquecer profissionalmente?

 

[Entrevistada]: Sim, eu acho que estas experiências têm sempre pontos positivos, porque por muitos problemas ou por muitos imprevistos que aconteçam, nós aprendemos sempre qualquer coisa. E eu acho que o facto de irmos para um país diferente, onde não temos um professor conhecido, um amigo ou um colega conhecido, um familiar conhecido, é sempre bastante desafiante e faz-nos pensar como é que poderemos resolver isso de uma forma que não é tão óbvia como cá que é simplesmente ligar a alguém ou dizer o que é que eu faço agora? Acontece sempre alguma coisa, vamos ter que ter sempre bastante paciência, resiliência, mas acho que acima de tudo, ajuda sempre muito a crescermos, a conhecermos culturas novas, métodos de ensino novos. Acho que é sempre muito bom, e acho que pelo menos ganhamos sempre alguma coisa.

 

[Entrevistadora]: Sim? Acredito que sim. Nunca tive nenhuma experiência dessas, mas acredito que sim. Agora pegando numa parte que eu acho que também é muito importante, é a nível de burocracias. De que modo é que te preparaste para esta experiência que irias enfrentar, mas numa parte mais burocrática, por exemplo, seguros de saúde, as passagens, os papéis que tiveste que trocar entre as universidades, presumo, portanto, cá em Portugal como lá, como por exemplo, a nível de alojamento. Como é que tu fizeste para arranjares alojamento?

 

[Entrevistada]: OK, então se calhar eu começo pelo mais fácil que foram, por exemplo, os seguros de saúde. Eu acho que não fiz nada de modo diferente do que faria cá. Acho que foi tudo exatamente da mesma forma. Depois, os papéis entre universidades também acho que que não, que não foi nada assim justificativo de alguma dificuldade. Porque pronto era um bocado mais chato porque tínhamos de estar atentos a prazos de submissão de candidaturas, de escolher as cadeiras que queríamos, de ver se dava equivalência, de papéis para também recebermos a bolsa de mobilidade. Isso às vezes acaba por ser um bocado mais chato, mas acho que era mesmo relativamente a prazos, temos que estar sempre atentos a não podemos deixar este prazo, o nosso coordenador, tanto cá como da instituição de acolhimento tem que assinar antes desta data para nós podermos enviar. Acho que isso era a parte mais chata. Mas no fundo não era difícil porque nós tivemos sempre bastante sorte que mandamos e-mail a qualquer um dos nossos coordenadores, e eles assinavam e mandavam de volta. Não necessitamos marcar uma reunião presencial e era bastante simples.

Depois eu acho que o mais difícil nisso tudo foi mesmo alojamento, porque no meu caso, eu fui para Milão, que é uma cidade bastante mais cara do que Portugal. Nós inicialmente tínhamos como objetivo ficar. Eu fui, para contextualizar, eu fui com mais 2 colegas. Nós sempre desde o início tínhamos como ideia ficar alojadas numa residência e tivemos sempre atentas ao prazo das candidaturas para a residência. Mal o prazo abriu nós estávamos prontinhas para tentarmos a nossa sorte. Só que mal o prazo abriu, as vagas esgotaram logo, eram mesmo muito poucas, e nós não conseguimos ficar nas residências.

Passamos ao plano B que foi tentar encontrar alojamento através de sites apropriados para isso. Só que eu acho que, ainda que não tenha sido muito em cima da hora, nós fomos em Setembro e eu penso que nós começamos a procurar no Verão, fins de Junho, julho por aí, ou seja, ainda tínhamos sempre 2 meses. Eu creio que já foi um pouco em cima da hora. Porquê? Porque primeiro advertiram-nos, para termos bastante cuidado com possíveis fraudes e enganos, porque acho que isso é muito comum em Itália, principalmente em grupos de Facebook e em sites que não são tão fidedignos, digamos. Muitas vezes, eles pedem logo uma caução e depois a casa nem existe. Ou seja, nós tivemos sempre de assegurar que tínhamos esse cuidado para não estarmos a ser roubadas.

E depois o custo do alojamento, é muito diferente de Portugal, ainda que nós tínhamos direito a uma bolsa, ultrapassava bastante. O que nos deu também um bocadinho mais de trabalho a procurar casa, e também como sendo Milão uma cidade tão grande nós também ficámos um bocado perdidas sobre a melhor localização ou se depois teríamos facilidade a nível de transportes públicos, o que depois é completamente aceitável os transportes públicos de Milão, há imensos, de 2 em 2 minutos há metro, é super fácil.

O que eu aconselho é que lá está, procurem com bastante antecedência e procurem, sobretudo em sites verificados, airbnb’s, sites em que o host do apartamento ou qualquer tipo de alojamento que irão acabar por arrendar, seja verificado, porque depois qualquer problema que tenham a nível de pagamentos a nível de caução, qualquer problema que possa existir, há sempre a garantia do proprietário, que vai sempre tudo correr bem e que nunca serão enganados nem alvo de fraudes ou outros problemas que acabam por ser bastante chatos, mas sim, eu acho que alojamento foi mesmo, no meio de toda a experiência, a parte mais difícil e mais chata.

 

[Entrevistadora]: Saindo um pouco desta parte mais burocrática, gostaria de te perguntar como foi o processo de integração num novo país? Sentiste algum tipo de choque cultural ou dificuldade em te adaptares?

 

[Entrevistada]: Eu acho que a nível de integração foi bastante fácil. Não só a parte da integração, mas também a nível cultural. Itália por ser um país europeu, é bastante semelhante a Portugal e não notei muitas diferenças. Para além disso, cada uma de nós, ao chegar à Faculdade de acolhimento, fomos recebidos por um “buddy”, designação que usavámos. “Buddy” era a pessoa responsável por nós, com uma idade semelhante à nossa e que estava sempre disponível para nos ajudar caso tivéssemos alguma dúvida. Para além de já termos contactado ex-alunos que passaram pela mesma experiência de mobilidade do que nós, tínhamos também este “buddy” ao qual podíamos recorrer sempre que precisássemos, quer para falar com professores, quer na parte de cariz mais social, quer para esclarecer o funcionamento dos transportes públicos e onde se poderia fazer o passe, caso mais específico que me recordo. Para todas estas questões, tínhamos sempre alguém que nos ajudasse, quase 24 horas por dia. Bastava mandar uma mensagem apenas e era bastante fácil esclarecer todas as questões que tivéssemos. Além disso, acabámos também por desenvolver uma amizade com esses nossos amigos, o que foi bastante positivo.

 

[Entrevistadora]: E é o que de melhor se tira destas experiências, conhecer novas pessoas, conhecer novas culturas e ficar sempre com aquele “bichinho” bom das cidades por onde passamos. Passando para a próxima pergunta, que é uma pergunta que toda a gente faz. Na tua opinião, quais as diferenças mais marcantes que sentiste relativamente ao ensino de Portugal vs. Estrangeiro?

 

[Entrevistada]: Eu acho que há duas grandes diferenças que me vêm logo à cabeça. Mal tu começaste a fazer a pergunta, foram essas duas que se destacaram logo. Esta é a minha opinião relativamente ao ensino na Faculdade de Milão, uma vez que confesso que desconheço como é que é o ensino em outras Universidades Europeias. Mas a grande diferença que senti foi que na Faculdade de Milão o ensino é muito mais teórico, comparativamente ao ensino em Portugal. No meu caso eu tive cadeiras onde aplicavam bastantes fórmulas e bastantes procedimentos experimentais, mas posteriormente na avaliação, não abordavam tanto essa componente mais prática, apenas a componente teórica era destacada.

A nível da avaliação, realizei uma coisa que eu nunca tinha feito, pelo menos cá em Portugal. As avaliações na Faculdade de Milão eram maioritariamente avaliações orais, o que acabou por ser um ponto positivo no ensino. O professor da respetiva cadeira marcava com antecedência uma data com os alunos e isso permitia não termos duas avaliações no mesmo dia. Por vezes, o que acontece cá em Portugal é termos dois exames no mesmo dia ou num dia a seguir ao outro. Mas na Faculdade de Milão era muito mais fácil ter essa disponibilidade e fazer essa calendarização com o professor. O professor marcava connosco um dia e uma hora, dirigiamo-nos à sala onde ele se encontrava e tínhamos cerca de 15 a 20 minutos para fazer a nossa avaliação dessa cadeira. No tempo disponibilizado pelo professor, ele fazía-nos perguntas onde tínhamos de responder na hora e imediatamente no final a terminarmos a nossa prova oral, o professor da respetiva cadeira dava-nos a nota. No início, confesso que me dava um pouco de receio. Visto agora de fora, acaba por ser bastante positivo, porque torna-se mais fácil nos expressarmos oralmente do que pela típica forma escrita, onde o professor posteriormente leva a prova para casa e tenta perceber o que é que o aluno está a tentar dizer com aquela resposta. Portanto, estas avaliações orais foram um pouco positivas. 

No meu caso eu tive dois exames orais e os restantes foram escritos. Mas esses que foram escritos foram muito mais difíceis do que em Portugal, devido à quantidade de matéria teórica que os professores depositam em nós ou que querem que nós saibamos. Comparativamente a Portugal, eu acho que é uma quantidade imensa. Portanto, estas as duas foram as duas maiores diferenças e mais marcantes que me vêm à cabeça quando eu comparo o ensino de Portugal com o ensino do Estrangeiro, no meu caso com o ensino que presenciei na Faculdade de Milão.

 

[Entrevistadora]: Obrigada. Para finalizar a nossa conversa, eu gostaria de te perguntar, que conselhos darias aos estudantes que também ambicionam participar no Programa de Erasmus? E se tens planeado, no final do término do curso, ingressares profissionalmente numa carreira a nível internacional?

 

[Entrevistada]: Começando pela primeira pergunta, relativamente aos conselhos que eu daria. Acima de tudo, é uma experiência que é sempre enriquecedora e que por muitos pontos negativos que possa ter ou por vezes pensarmos “se eu tivesse em Portugal, isto não acontecia, era muito mais fácil”. Por todas essas adversidades que possamos encontrar, acho que tem sempre pontos positivos que contrabalançam com esses aspetos menos bons. Portanto, na indecisão, eu acho que é sempre bom ir porque aprendemos sempre alguma coisa. Para além disso, nunca ter medo de fazer perguntas. Todas as pessoas que já foram e que já passaram pelas mesmas coisas, por vezes é muito mais fácil perguntar e esclarecer logo qualquer dúvida que tenhamos do que andar a tentar solucioná-la por nós mesmos. Acabamos por perder muito tempo ou até mesmo, andar às voltas, à procura da solução ideal, quando é mais fácil perguntar. E ninguém se importa de responder, toda a gente tem todo o gosto em ajudar. No fundo, o que as pessoas só querem é que tenham uma experiência tão boa ou melhor do que a que nós tivemos.

Relativamente à possibilidade de uma carreira a nível internacional após o término do curso, confesso que não sei. Acho que é uma questão que se encontra um bocadinho em aberto e que para já não consigo dar uma resposta, porque depende muito das oportunidades e das condições que me apresentarão. Não digo que seja uma hipótese completamente fora de questão, mas acho que também não seja algo que eu diga já, de antemão, que eu quero. Lá está, vai depender muito do leque de condições que possa encontrar pelo caminho.

 

[Entrevistadora]: Muito bem! Primeiro de tudo, temos de te agradecer por teres tido a amabilidade e a disponibilidade por teres estado aqui connosco hoje a falar e a esclarecer todas estas dúvidas. Agradecemos-te do fundo do nosso coração e desejamos-te que continues com o teu trabalho, que corra tudo bem e que um dia mais tarde nos possamos encontrar, noutras atividades. E desejo-te toda a sorte do mundo e muito obrigada!


A ANEEB agradece por teres aceite esta entrevista e pela partilha da tua experiência fora de Portugal, esperando com isto ajudar outros estudantes que estejam prestes a tomar esta decisão. Votos de sucesso!