Entrevista a Catarina Camarate
Catarina Camarate
Estudante do 2º ano de Mestrado em Eng. Biomédica e Biofísica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
A ANEEB teve o prazer de entrevistar Catarina Camarate! A Catarina falou-nos sobre a sua experiência internacional em Copenhaga e Barcelona, além do seu extenso percurso académico e profissional ao longo do curso!
[Entrevistadora] – Catarina Almeida (ANEEB)
[Entrevistador] – Pedro Teodoro (ANEEB)
[Entrevistadora]: Olá a todos, sejam bem-vindos ao primeiro episódio dos “Biomédicos pelo Mundo”, uma iniciativa que tem como objetivo dar a conhecer percursos internacionais inspiradores de Engenheiros Biomédicos portugueses. O cerne deste projeto residirá numa coletânea de entrevistas a estudantes e formados, que já tenham tido experiências de estudos/emprego fora das nossas fronteiras. O meu nome é Catarina Almeida e sou colaboradora do Departamento de Formação e Saídas Profissionais da ANEEB.
[Entrevistador]: Olá a todos, o meu nome é Pedro Teodoro, Diretor do Departamento de Ensino e Ação Social da ANEEB.
[Entrevistadora]: E para esta entrevista temos o prazer de estar virtualmente acompanhados pela Catarina Camarate. Olá Catarina, sê muito bem vinda ao nosso primeiro episódio dos “Biomédicos pelo Mundo”.
[Entrevistador]: Para os que não conhecem, a Catarina Camarate é estudante do 2º ano de Mestrado de Engenharia Biomédica e Biofísica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Pautou a sua licenciatura com a realização de três estágios: o primeiro teve lugar na Glintt no âmbito do desenvolvimento de uma aplicação para pacientes com cancro; o segundo realizado em parceria com a start-up Neroes na área do neurofeedback; e um estágio no INL (Instituto de Nanotecnologia, Braga) no qual colaborou numa equipa de investigação para diagnóstico do cancro utilizando nanopartículas. Ainda para a realização da sua tese de mestrado, realizou um estágio na Neuroelectris, uma empresa da área da neurociência sediada em Barcelona.
[Entrevistadora]: Aliado ao mencionado, Catarina Camarate realizou um módulo do EIT Health Module em parceria com a Copenhaga Business School denominado por “Métodos Quantitativos Avançados para Inovação em Saúde”. Com um percurso marcado por atividades extracurriculares, Catarina fez ainda parte do Núcleo de Estudantes de Engª Biomédica da Faculdade de Ciências. Para dar início à nossa entrevista, a primeira pergunta que te faço é a seguinte: segundo a tua biografia, sabemos que estudaste na Copenhaga Business School numa vertente mais empresarial. Que diferenças se fizeram sentir relativamente a Portugal? Tanto a nível da cultura como do estilo de vida, por exemplo.
[Entrevistada]: A primeira diferença que encontrei em termos de cultura é o facto de as pessoas nórdicas serem um bocadinho mais frias, como já é conhecido. Eu também senti que o facto de estarmos numa época com COVID-19 acentuou mais essa perspetiva. Nós acabamos por ficar muito tempo fechados em casa e não tivemos muito em contacto com as restantes pessoas da turma. No início, quando chegamos a Copenhaga, o ensino começou por ser presencial, mas rapidamente mudou para o regime online devido às condições pandémicas que se faziam sentir. Portanto, sinto que a minha opinião em relação às questões culturais é influenciada por isto, mas tenho pena de não ter conseguido ter a experiência a 100% para poder confirmar a verdade. Em termos de vista do ensino, eu achei bastante mais exigente. Os trabalhos mesmo quando eram em grupo, eram avaliados individualmente, o que em Portugal, isso muitas vezes não acontece. Se os trabalhos forem em grupo, vamos apresentar em grupo e acabamos por nem falar tanto como se deveria. E assim, os professores acabam por não puxar verdadeiramente por nós individualmente. Em contrapartida, na Copenhaga, isso não acontece, pelo menos no módulo que lecionei! E apesar de ser mais puxado, no final sentimos que acabamos por aprender mais. Aliás, na minha perspetiva, eu senti que realmente aprendi mais.
[Entrevistador]: Para além dessas diferenças que sentiste, relativamente a Portugal, que competências pessoais e técnicas pensas ter adquirido no tempo em que estiveste em Copenhaga?
[Entrevistada]: Competências pessoais diria a capacidade de nos esforçarmos mais do que o habitual, porque foi uma experiência bastante desafiante e intensa. A nível pessoal acredito que cresci bastante no sentido de que temos de pesquisar, de trabalhar, de nos esforçarmos mais. O facto de termos ficado em casa, muitas das vezes sentíamos que não tínhamos assim tanto apoio por parte dos professores porque era mais difícil esclarecermos as nossas dúvidas. Portanto tivemos de fazer um trabalho mais autónomo e isso ajudou-nos a crescer pessoalmente. Do ponto de vista profissional, ajudou o facto de termos realizado um estágio com uma empresa. Foi a minha primeira experiência a nível de estágio mais empresarial. A empresa foi a Glintt, onde aprendi a desenvolver um modelo de negócios, o que me ajudou a perceber que também gostava desta nova área que nunca tinha tido a oportunidade de contactar no decorrer do curso.
[Entrevistadora]: Pegando nessas competências que deves ter adquirido, penso que devem ter-te ajudado na realização da tua tese de mestrado. No âmbito da mesma, realizaste um estágio na Neuroelectris, uma empresa da área da neurociência sediada em Barcelona. Como surgiu esta oportunidade?
[Entrevistada]: Na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, nós temos de realizar um estágio no final do 3º ano e geralmente os alunos escolhem fazer o estágio fora de Portugal, com o programa ERASMUS+. Devido ao COVID-19, nós não tivemos esta possibilidade devido ao confinamento. Portanto, sinto que ficou sempre o “bichinho” de ir para fora e quando chegou a altura da realização da tese, aproveitei a oportunidade de ir para fora através do programa ERASMUS+. Primeiro comecei por pesquisar possíveis opções de estágio. Eu sabia que queria fazer numa empresa, sabia que queria fazer na área da neurociência, então comecei a procurar projetos na Europa sediados em empresas e foi aí que encontrei a Neuroelectris.
[Entrevistadora]: E como é que foste para este desafio? Como é que encaraste esta nova realidade? Numa empresa diferente, num país diferente, numa área diferente…
[Entrevistada]: No início estava cheia de medo. Porque em Copenhaga foi apenas por dois meses, era num contexto mais académico em que já estamos mais familiarizados, fui com amigos, ficamos a viver juntos, fizemos as cadeiras juntos. Portanto foi uma experiência diferente. Em contrapartida, em Espanha foi uma experiência completamente diferente porque tive de sair da minha zona de conforto. Nos dias antes de ir para Barcelona lembro-me de estar “super” nervosa, não conseguia dormir porque estava realmente com medo de não me conseguir adaptar, de perceber que não era capaz de desempenhar as tarefas que eles estavam à espera, de não me conseguir identificar com as pessoas que trabalhavam na empresa. Para além disso, não sabia se as pessoas que trabalhavam na empresa seriam muito mais velhas do que eu, se não iria conseguir criar relações com elas. Portanto, estava um pouco mais apreensiva, mas sabia que mais-valia, mesmo assim, ir e correr mal, do que simplesmente não ir. E lá fui eu à busca do desconhecido, mas no final compensou bastante.
[Entrevistador]: Ainda bem! Como já nos confirmaste este estágio foi presencial. Apesar de Espanha não ser um país com tantas diferenças culturais como em Copenhaga, quais é que são os principais ensinamentos que tiraste desta experiência?
[Entrevistada]: Primeiro, ensinou-me muito no ponto de vista de trabalhar, de programação. Ensinou-me bastante!! E depois ensinou-me também que há tempo para tudo na nossa vida. Podemos nos dedicar a 100% no nosso trabalho, mas vai haver sempre tempo para criar relações com as pessoas, ter tempo para ter estas experiências, conhecer pessoas novas, mesmo quando no início parece que não nos identificamos tanto com elas. Isto foi uma coisa que eu aprendi porque conheci pessoas bastante diferentes. Apesar de no início ter pensado que não me identificava muito com elas, mesmo essas pessoas conseguem nos marcar bastante. Esta foi uma das lições mais preciosas que aprendi. Mas acima de tudo, o ensinamento que levei desta experiência é que apesar de ser bom ter uma vida estável e sentirmo-nos confortáveis onde estamos, é sempre importante passarmos por estas experiências que nos fazem sair um bocadinho da nossa zona de conforto. E não nos devemos esquecer disto ao longo da nossa vida.
[Entrevistadora]: De facto, ambas as experiências internacionais não constituíram alternativas ao plano curricular de Engenharia Biomédica, mas foi possível aperceberes-te de diferenças tanto no método de ensino, como de trabalho nestes 2 países?
[Entrevistada]: Em Barcelona pude desenvolver uma ética de trabalho bastante mais eficiente, visto que para poder aproveitar a parte mais social desta experiência, tive de ser não só, organizada como rigorosa com o trabalho em que estive envolvida. Em Copenhaga, a experiência e a evolução que senti foi a mesma, pois, como módulo em que estava inserida era extra ao plano curricular normal, acabei por estar mais sobrecarregada de trabalho, e como este era mais complicado, consegui desenvolver a minha ética de trabalho e organização.
[Entrevistador]: Há algum conselho especial que gostarias de dar a um estudante de Engenharia Biomédica que tenha vontade de ir estudar ou trabalhar para fora?
[Entrevistada]: O meu conselho é que vão, aceitem o desafio, experimentem, mesmo que tentem arranjar desculpas para não ir, o que eu cheguei a tentar fazer. Mas, na verdade, mais vale ir e depois decidir voltar, do que não ir. Apesar de todas as experiências que tive fora do país, gostava de trabalhar em Portugal. O facto de as ter, especialmente a de Barcelona, fez-me perceber que se eu não encontrar nada em Portugal que me agrade, tenho um mundo lá fora, e é possível ir para um país novo, e uma cidade nova completamente sozinha e fazer relações com as pessoas, criar amizades, e construir a uma vida lá. O facto de eu agora saber que tudo isto é possível, fico mais calma relativamente à minha procura de emprego, porque sei que se não conseguir ficar aqui, posso trabalhar lá fora.
[Entrevistadora]: Como já mencionamos, ao longo do teu percurso, fizeste estágios com várias entidades, tais como a Glintt, a Neroes e o INL. Todas estas têm perfis de trabalho e focos muito diferentes na sua atividade. O que te motivou a procurar oportunidades de estágio em cada uma e de que modo sentes que contribuíram para a tua formação?
[Entrevistada]: O nosso curso é bastante abrangente, o que é algo positivo, porém pode deixar os estudantes sem saber em que área versar. Como tal, inicialmente estava em dúvida sobre o que gostava e o que poderia fazer. Tendo isto em conta, na procura de estágios acho importante não nos focarmos apenas numa área. Se o estudante estiver certo do que realmente quer fazer, não é necessário explorar diferentes temas, mas em caso contrário, é importante diversificar as áreas dos estágios para perceber o que quer fazer, ou pelo menos excluí-las. Isto foi o caso do meu primeiro estágio, que era mais laboratorial e de investigação, e apesar de achar muito interessante, percebi que esta parte não era para mim, e que preferia lidar com problemas mais reais e soluções mais rápidas de aplicar, e consiga identificar o efeito do meu trabalho. Concluindo, acho muito importante realizar estágios nas diferentes áreas, de modo a descobrir o que se gosta ou não de fazer.
[Entrevistador]: O WebSummit foi das tuas primeiras experiências extracurriculares. De que forma é que a participação enquanto voluntária neste evento te influenciou a procurares participar em atividades fora da academia?
[Entrevistada]: Realmente o WebSummit foi das minhas primeiras experiências extracurriculares e também um pouco internacional. Não tinha noção que há um elevado número de pessoas que vêm de propósito a Portugal só para realizar voluntariado neste evento. Em 2 dias tive a oportunidade de conhecer imensa gente, de imensos países, o que acabou por me abrir os horizontes e me levar a pensar que há muito mais do que aquilo que nos lembramos e pensamos. Tudo isto deixou em mim um bichinho para ir procurar por mais. É um evento bastante completo, e sendo voluntário, temos acesso à feira das empresas, que é um bilhete bastante caro para quem não o é, e temos a oportunidade de ver e perceber que empresas estão a crescer e que tipo de problemas é que cada uma se foca. Isto levou-me a pensar para além do nosso curso, e das cadeiras que estudamos.
[Entrevistadora]: Da minha parte, muito obrigada Catarina. É sempre enriquecedor poder falar sobre estas experiências tão diferentes. Desejo-te muito sucesso para o teu percurso académico e profissional. E mais uma vez, obrigada!
A ANEEB agradece por teres aceite esta entrevista e pela partilha da tua experiência fora de Portugal, esperando com isto ajudar outros estudantes que estejam prestes a tomar esta decisão. Votos de sucesso