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Do ponto de vista individual, o percurso de uma doença é descrito pelo que se passa entre o momento em que o indivíduo começa a ter sintomas e o momento em que estes acabam, mas do ponto de vista epidemiológico é mais importante a distribuição no tempo e no espaço dos contactos infeciosos tidos pelo indivíduo infetado com outros indivíduos e a forma como isso se repercute na propagação da infeção pela população. A complexidade deste assunto implica então a necessidade de modelar o problema recorrendo a instrumentos apropriados, nomeadamente modelos matemáticos.

Particularizando, um modelo estocástico é uma ferramenta para estimar distribuições de probabilidade de resultados potenciais, permitindo uma variação aleatória numa ou mais entradas ao longo do tempo, tendo a capacidade de determinar a disseminação estatística de doenças a nível de agentes em pequenas ou grandes populações. Por outro lado, quando se trata de grandes populações, são frequentemente utilizados modelos matemáticos determinísticos ou compartimentados, nos quais os indivíduos da população são atribuídos a diferentes subgrupos ou compartimentos, cada um representando uma fase específica da epidemia.

Um dos parâmetros importantes a ter em conta é o R0, ou seja, o número médio de pessoas que uma única pessoa infetada irá contagiar durante o curso da sua infeção. Se R0 > 1, cada pessoa infeta, em média, mais do que uma outra pessoa; se R0 < 1, cada pessoa infeta, em média, menos do que uma pessoa; e se R0 = 1, então cada pessoa infeta, em média, exatamente uma outra pessoa. Tendo isto em conta, diz-se que uma doença infeciosa é endémica quando pode ser sustentada numa população sem a necessidade de inputs externos.

Se um programa de vacinação fizer com que a proporção de indivíduos imunes numa população exceda o limiar crítico durante um período de tempo significativo, a transmissão da doença  nessa população irá parar. Este conceito é conhecido como eliminação da infeção e é diferente da erradicação, que é a redução a zero dos organismos infeciosos na natureza, a nível mundial. Para chegar à erradicação, a eliminação em todas as regiões do mundo tem de ser conseguida, tal como aconteceu no caso da varíola.

Por fim, é possível observar que o estudo de epidemias utilizando modelos matemáticos tem-se mostrado uma ferramenta importante para que se possa entender e prever o comportamento de uma epidemia e adotar uma política de prevenção para que esta não se alastre causando um grande número de mortes.

Bibliografia:

[1]     M. C. Gomes, “Modelação da transmissão da doença,” Din. Doenças Infecc., pp. 1–21, 2008, [Online]. Available: http://webpages.fc.ul.pt/~mcgomes/aulas/biopop/Mod7/Text  Model.pdf.

[2]     L. R. Alvarenga, “Modelagem de epidemias através de modelos baseados em indivíduos,” p. 130, 2008.

[3]     R. Ramon, “Modelagem Matemática Aplicada a epidemiologia,” 2011.

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